Berlin: Bands Reunited (***** / excelente)
Berlin: Take My Breath Away (**** / muito bom)
Para os interessados, no YouTube é possível assistir esses dois grandes docs da excelente banda ''one-hit wonder'' Berlin - só que não, já que, ao menos na década de 80, No More Words, The Metro e Sex (I'm a...) também foram hits.
Faço aqui algumas observações sobre os dois docs, ambos recomendadíssimos pelo blog que vocês amam odiar.
BERLIN: BANDS REUNITED (2004)
É interessante pensar que Berlin é daqueles grupos tipo Crashdiet: bandas que jamais tiveram um mísero integrante fixo que esteve presente em todas as fases da banda. O primeiro line-up do grupo - ainda como The Toys - contava com o fundador e líder John Crawford, o guitarrista Chris Ruiz-Velasco (o compositor da maravilhosa Masquerade, a melhor faixa da banda), o finado baterista Dan Van Patten e o vocalista homem Ty(son) Cobb. Com exceção de Cobb, já devidamente trocado pela Terri Nunn, foi essa formação que gravou o single e o videoclipe de A Matter of Time, em 1979.
Mas esse documentário da VH1 busca reformar um outro line-up do Berlin, que é a formação da era Pleasure Victim: Terri Nunn (vocal), John Crawford (baixo), Ric Olsen (guitarra), Rod Learned (bateria) e os tecladistas Dave Diamond (sem relação alguma com o ''Diamond Dave'' David Lee Roth) e Matt Reid. Será que a VH1 conseguirá cumprir essa ''Missão: Berlin''? Ou será que - pelo menos - um desses integrantes recusará voltar com a banda?
Vale lembrar que, nessa época, o Berlin atual contava com a Terri acompanhada de uns ''scabs'' paraquedistas, fazendo assim uma espécie da versão feminina dos Cunts N Posers. Além da Terri, tinha um cidadão chamado Chris Olivas (sem nenhuma relação com o quase homônimo Chris Oliva, maluquinho do Savatage - AKA Pior Nome de Banda Ever - que morreu tragicamente) e um carinha lá fazendo a linha ''goth metal rocker'', que poderia muito bem estar tocando no Nine Inch Nails ou Marilyn Manson.
É interessante notar que, além da Terri, o único outro integrante desses seis membros do Berlin clássico que continuava na música era mesmo o tecladista Matt Reid, que estava se virando com performances de covers em bares, festas e casamentos.
Ponto curioso do doc: a inclusão da canção We Used to Be Friends dos Dandy Warhols na trilha sonora.
Frase de destaque do doc:
''[As composições do John Crawford para o Berlin] não são restritas para garotos ou garotas. São para seres humanos se sentindo miseráveis.'' - Terri Nunn
Essa declaração realça uma certa faceta gótica da banda, que, de maneira alguma, era só mais um mero grupo new wave - e que possui muito, muito, muito mais a oferecer do que a xaropeta Take My Breath Away.
BERLIN: TAKE MY BREATH AWAY (2013)
Não se deixem broxar por causa do título desse documentário. O doc em questão é interessantíssimo até para as pessoas sensatas que odeiam Take My Breath Away - que, com a mais absoluta certeza, está sim no meu TOP 5 das piores canções do Berlin oitentista, ao lado de outras presepadas como Torture (que faz jus ao título), You Don't Know (inexplicavelmente também lançada como single e videoclipe), Pink and Velvet (também lançada como single) e a seriamente obscura e estranha French Reggae, que é a menos pior dessas 5 pataquadas.
O doc já abre com a seguinte declaração:
''Take My Breath Away. Todos nós já a ouvimos, querendo ou não. Mas... Berlin? Quem são eles? Pelo menos o nome soa europeu...''
E aí o doc começa uma jornada pelos primórdios do Berlin, a partir da entrada da cantora-atriz Terri Nunn na banda, e COMPLETAMENTE ignorando qualquer menção aos outros três vocalistas que passaram pelo grupo: Ty(son) Cobb (sim, no início, o Berlin - então chamado The Toys - contava com um HOMEM no vocal), Toni Childs e a sensacional Virginia Macolino (ex-Virginia Macolino and the Slims e futura frontwoman do Beast of Beast), com quem o Berlin gravou o subestimado e esquecido debut Information, de 1980, disponível apenas num raríssimo vinil. Bem, quem sabe um dia nós teremos um documentário intitulado BERLIN: THE COMPLETE HISTORY OF THE OTHER THREE SINGERS, né? É, vai sonhando...
Desse período underground, o doc mostra um trecho do clipe oficial (ou mera performance de TV - sim, existem controvérsias nessa questão) de A Matter of Time na versão com a Terri, o primeiro single do grupo. Mas rola um erro ali: a legenda diz ''1981'' quando, na verdade, o vídeo é de 1979.
E, por falar em vídeos obscuros, o doc revela uma excelente sacada ao mostrar um trecho do seriamente obscuro PRIMEIRO clipe de The Metro, de 1981. É um vídeo bem mais ousado do que a segunda versão (e a terceira, e a quarta...), apelando no sex appeal e no aspecto ''dark'' da parada, mostrando até um pouco de sangue e morte. Sensacional e, provavelmente, o meu clipe favorito entro todos do Berlin.
Após passar pelo período Pleasure Victim (1982), o primeiro disco com a Terri, o doc aborda a primeira relação do bobalhão Giorgio Moroder com o Berlin, através da sua participação como produtor no maior hit do Berlin pré-Top Scum: No More Words, o principal single do LP Love Life (1984), segundo álbum de estúdio com a Terri. É curioso reparar as semelhanças desse clipe - que mostra a banda como gangsters durante a Grande Depressão - com um outro clipe mainstream do mesmo período: Wanted Man, dos farofeiros adoráveis do Ratt. (Interessante isso do Ratt, já que o John Crawford está a cara do finado Robbin Crosby no clipe da Like Flames.)
Aí vamos para o maior hit do Berlin, a mega-melosa xaropice da trilha sonora daquele filme imbecil, que acabou de vez com a banda.
Nessa parte, o doc também mostra uma entrevista com a Martha Davis (The Motels), a primeira opção para cantar Take My Breath Away. Até mostram trechos do primeiro clipe de TMBA, nessa versão da cantora do The Motels. Não satisfeitos com a performance dela, ofereceram a canção para a Terri Nunn - cuja versão agradou a todos os presentes. Quer dizer, todos não, já que o resto do Berlin na época - o baixista e líder John Crawford e o baterista Rob Brill - odiaram a canção, já que ela não foi composta por ninguém da banda e não tinha nada a ver com a sonoridade do grupo.
''Foi aí que o Berlin perdeu o foco. (...) [TMBA] nos separou, basicamente.'' - John Crawford.
Os dois detestavam ter que tocar ela em todos os shows e, para piorar, a canção foi incluída no disco (Count Three and Pray, 1986) por pressão da Geffen. Graças a TMBA, fillers variados e apenas três grandes canções (Like Flames, Trash e Will I Ever Understand You?), posso dizer que, entre os quatro discos oitentistas do Berlin, C3&P é o único que não é uma obra-prima.
Mas, apesar de todos os pesares, a Terri, muito curiosamente, sempre foi uma grande defensora de TMBA. Vai entender. Eis o trecho de um depoimento dela no doc: ''Essa canção é uma dádiva. (...) Naquela época eu não tinha amor na minha vida e não transava fazia quatro anos. É por isso que eu cantei aquela música com tanta sinceridade e tristeza.''
No mais, um trecho engraçado do doc é quando a narração diz ''em 1986 até mesmo grupos de hard rock estavam fazendo uso dos sintetizadores'' e, daí, entra a cafonice master chamada The Final Countdown - faixa título de um álbum pavoroso - na trilha sonora :) (E é curioso pensar que, naquele ano, até mesmo a Donzela Ferrada se rendeu aos sintetizadores no LP Somewhore in Time - disco chato pacaray inspirado em um filme chato pacaray, Blade Bummer: O Caçador de Andróginos.)
(...)
Enfim, esse foi o meu primeiro post sobre Berlin, que se tornou a minha banda ocidental favorita dos anos 80.
Para finalizar, eis o meu TOP 10 Berlin:
(INFORMATION, 1980)
Information
Overload (na versão Virginia Macolino)
(PLEASURE VICTIM, 1982)
Masquerade
The Metro
(LOVE LIFE, 1984)
Dancing in Berlin (cover de Farenheit, projeto desenvolvido pelo John Crawford durante a fase Virginia Macolino - cujo clipe original, by Farenheit, é uma das coisas mais toscas, bizarras, engraçadas e sensacionais já postadas no Tubão)
Pictures of You
Touch
(COUNT THREE AND PRAY, 1986)
Like Flames
Trash
Will I Ever Understand You?