segunda-feira, 21 de setembro de 2015

A Casa dos Mortos-Vivos (1981)



(O primeiro post do meu blog 7 Noites em Claro é uma resenha bastante nua e pessoal sobre um dos melhores filmes daquele que é o diretor mais importante na minha vida: A Casa dos Mortos-Vivos / A Casa do Cemitério, de Lucio Fulci, o cineasta que amaldiçoou a humanidade em cada um de seus filmes, mesmo nos mais incomuns, amenos e "bonzinhos". Eu o agradeço eternamente por isso.)

Adquirida a VHS d'A Casa do Cemitério… DENTRO DO CEMITÉRIO.

Quer algo mais verdadeiramente 3D do que isso?

HAIL FULCI. UM DIA IREI CONSEGUIR TE RESSUSCITAR, E JUNTOS IREMOS DESTRUIR O MUNDO.



"Ninguém nunca saberá ao certo se as crianças são monstros, ou se os monstros são crianças."

Tal frase de Henry James, que aparece ao término do filme, faz todo o sentido. Afinal todos os grandes problemas deste mundo deplorável não estariam mesmo na infantilização de tudo?

Após Pavor na Cidade dos Zumbis (1980) e Terror nas Trevas, AKA A Casa do Além (1981), Lucio Fulci volta a ter Catriona MacColl (Katherine MacColl) como sua protagonista em A Casa dos Mortos-Vivos, AKA A Casa do Cemitério, realizado também em 1981.

Horror Lovecraftiano com toques surrealistas (Fulci nunca devidamente recebeu crédito por seu estilo surrealista…), acaba sendo um dos melhores trabalhos do maestro, novamente nos jogando em um universo caótico de pessimismo (outra marca registrada do diretor) e violência, onde até as crianças e os fantasmas podem morrer de forma horrível, não havendo garantia de segurança para nenhum ser vivo (ou morto). Assim temos uma visão negativa não somente do Trio Inferno na Terra (existência, raça humana, Planeta Terra), como também do pós-vida. Ou seja, o descanso é uma utopia.

Falando em fantasmas, aqui temos uma personagem mais ou menos parecida com a garota cega interpretada por Cinzia Monreale em Terror nas Trevas. Ela acaba se envolvendo com a família de MacColl, que tira o azar grande ao se mudar para "Quella Villa Accanto al Cimitero", e ser ameaçada pelo espírito maligno do Dr. Freudstein (!); ameaça d'O Além que resultará em memoráveis cenas de náusea e gore, cortesia, é claro, do maquiador Giannetto de Rossi.

O cinema de Fulci, principalmente em seus gialli, e, mais ainda, em suas produções genuínas de horror, como esta, se apoia muitas vezes no mais puro sacrifício do roteiro, de parte dos diálogos, e até de certas atuações (canastronas ou propositalmente esquisitas?) em nome de visuais deslumbrantes, atmosferas assombrosas e experiências sensoriais únicas e transcendentais. O mesmo provavelmente poderia ser dito de Mario Bava e principalmente de Dario Argento, mas espera aí: quem são Bava ou Argento quando falamos de Fulci?

Também deve ser notado como A Casa dos Mortos-Vivos marca o auge das experimentações de Fulci na área dos zumbis. Zombie: A Volta dos Mortos / Zumbi 2: A Volta dos Mortos (1979), uma sequência não-oficial de O Despertar dos Mortos, era uma história mais comum de zumbis, com um impressionante embate entre um morto-vivo e um tubarão sendo o seu único real momento de outro mundo. Já Pavor na Cidade dos Zumbis entrou no terreno experimental derrubando a porta, e Terror nas Trevas é absolutamente fenomenal em seu universo de pesadelos dignos do Teatro do Absurdo. Seguindo tal vertente, A Casa... é o mais estranhão dos quatro, onde o onirismo manda e desmanda da forma como bem entender. Tem pelo menos duas cenas com a personagem mais enigmática da trama que remetem ao cinema da Nouvelle Vague, principalmente Jacques Rivette e Alain Resnais. (Fulci faria ainda a bizarrice Conquest, uma aventura surrealista e inclassificável de bárbaros, que encontra uma forma de contar com os adoráveis zumbis carniceiros numa sequência.)

The House by the Cemetery foi lançado duas vezes em VHS no Brasil: pela Dado Group, em 1987/1988, como A Casa dos Mortos-Vivos, e pela Reserva Especial, em 1995/1996, como A Casa do Cemitério. Deverá sair em DVD pela Versátil a qualquer instante. Lá fora está disponível em um ótimo Blu-ray pela Blue Underground.

"A vida é muito mais horrível do que qualquer coisa que eu poderia criar."

- Lucio Fulci

5 comentários:

  1. Adoro esse clássico do cultuado mestre do gore!!! Pena que só assisti apenas uma única vez há uns 3 anos atrás (e foi on-line ainda, direto no PC pela net). Adoraria rever com imagem melhor....
    Nunca um porão foi tão apavorante quanto nesse filme, chega a dar calafrios nas cenas que se passam nesse cenário.....
    E o gore (marca registrada do Fulci) é soberbo nessa obra!!!!
    Um clássico imperdível e obrigatório para os amantes do cinema de horror!
    Um dos melhores filmes "italianos" de terror já produzidos!!

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  2. Valeu pelo comentário.

    Vamos torcer para que a Versátil lance o filme (assim como outros do maestro) em DVD por aqui - pelo menos alguma coisa poderia sair em Blu-ray também... Depois das caixas dedicadas ao Bava e ao Argento, agora só resta uma do Fulci, pra fechar o principal trio dos mestres italianos do horror.

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  3. Verdade, merecíamos ter acesso a sua obra! Mas acho que vai pintar sim já que rolou do Bava e do Argento! Outro título dele que adoro é THE NEW YORK RIPPER! Sou fãzaço desse filme!!!
    Pena que nunca vi MANHATTAN BABY e PAVOR NA CIDADE DOS ZUMBIS!!!

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  4. Por ser mais maldito e niilista (e consistente também) do que Bava e Argento, é obrigatório que a Versátil lance o box ''A Maldição de Lucio Fulci'' (''A Arte de'' é o escambau).

    Muito bem lembrado: O Estripador de Nova Iorque é um giallo totalmente furioso e infernal que não assisto faz muito tempo (mais de 10 anos, na verdade) e que precisa de uma revisão urgente.

    O Bebê de Manhattan é dos menores do mestre, e Pavor na Cidade dos Zumbis estou tentando fazer uma resenha a altura.

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  5. Uma ótima postagem! Esse mesmo 'desenho' da capa 'Casa do Cemitério', tb foi usado no dvd lançado lá fora "O Mistério Etrusco" a.k.a. The Scorpion With Two Tails - 1982 (https://cdn.fstatic.com/media/movies/covers/2011/05/66270cc4301463d9d4d8f7defdfc22ec.jpg)

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