terça-feira, 27 de outubro de 2015

Até Que a Luz Nos Leve (2008)

''Onde quer que católicos, ou protestantes, ou outras denominações cristãs venham, eles destroem a cultura. Eles arruínam a cultura. Eles queimam a cultura. E queimam os registros dessas culturas.


O cristianismo é a razão de todos os problemas do mundo moderno.''


Não me identifico com o metal, com suas idolatrias bestas e infantis (como respeitar um meio em que Ronnie James Dio - ele mesmo, ''o cara do chifre'' - é visto como ídolo?), ''Deus do metal isso'', ''heavy metal é a lei aquilo'' e outras baixarias nonsense impossíveis de levar a sério se você tiver 16 anos ou mais. É muita adoração, muita crença... Muita coisa que não gosto.


Por isso e outros motivos, gostei bastante deste fascinante documentário sobre o black metal norueguês, que foge da imbecilidade vista em vídeos documentais sobre metal, tipo aquelas vergonhosas entrevistas da Hard N Heavy e outras palhaçadas. Aqui há uma seriedade, uma sobriedade, uma abordagem honesta e intelectual nos depoimentos (nem sempre - já que não consigo apoiar o assassinato de um homossexual - mas geralmente), que pode surpreender os leigos no assunto; aqueles que acham que o gênero é coisa de ''satanista sem noção''.


Por trás das prisões, assassinatos, suicídios, igrejas queimadas e declarações pró-armas, há um protesto de guerrilha, uma inquietação anti-conformista muito forte. Assim sendo, o black metal é um mundo à parte: não outro subgênero entre tantos, mas algo como uma Deep Web do heavy metal.


Ao contrário de grupos patéticos de white metal disfarçados de algo sério, como KI$$ (um conjunto de rock liderado por um judeu ultra-mercenário; tô fora), Iron Maiden, Saxon, Helloween, Angra e outras lamentáveis atrocidades do igualmente patético mundo ''headbanger'', Até Que a Luz nos Leve apresenta um grupo seleto de músicos de black metal (principalmente Varg Vikernes, do Burzum, e Fenriz, do Darkthrone), almas atormentadas condenadas à reclusão social, com um interesse mais focado na desmistificação do estereótipo e na autêntica expressão artística - muitas vezes acompanhada de um comportamento auto-destrutivo a lá GG Allin e Richey Manic - do que em gravar os mesmos discos eternamente ou elogiar o metal e os metaleiros; na verdade, há um notório desprezo niilista pela cena do metal e seus seguidores de praxe, o que é algo sempre muito bem-vindo. Não espere aqui os comentários padrões do metal falando sobre união da cena e demais utopias.


E declarações contra os EUA e os judeus são também sempre amigáveis.


(...)


Black Metal & Horror Cinema


Ligações com o mundo do cinema (em especial o de horror) ocorrem com uma citação do Sodom à sepultura que aparece no começo de Pavor na Cidade dos Zumbis (1980, do meu mentor máximo Lucio Fulci), mudando o ''Dunwich'' para ''Sodom'', com a participação de Harmony Korine (diretor de Gummo: Vida sem Destino, Julien Donkey-Boy e Mister Lonely), com uma loja que possui o simpático nome Elm Street e também no fato de que este documentário teve uma influência para a criação do clássico instantâneo A Entidade (2012, Scott Derrickson) - que também usou The Boards of Canada em sua trilha sonora. (O que nos leva a indagar: como teria sido o Mr. Boogie não fosse a inspiração do black metal?)


Como o próprio Derrickson chegou a comentar, eu também possuo um conhecimento bem tímido sobre black metal, mas é difícil não reconhecer qualidades encantadoras em certos aspectos de sua história. E Até Que a Luz Nos Leve soube cobrir isso de forma magistral. Deverei revê-lo muitas vezes, pois ele cumpre os dois deveres essenciais de um documentário: registrar algo e, através de tal cobertura, alimentar a inspiração.


Em suma...


Até Que a Luz Nos Leve é do caralho. Uma forte recomendação do blog 7 Noites em Claro.

 

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