Antes do desenho animado Caverna do Dragão / Dungeons & Dragons (1983), e de sua trilogia de adaptações live action pro cinema, composta por Dungeons & Dragons: A Aventura Começa Agora / Dungeons & Dragons (2000, de Courtney Solomon), Dungeons & Dragons 2: O Poder Maior / Dungeons & Dragons: Wrath of the Dragon God (2005, de Gerry Lively) e o ainda inédito por aqui Dungeons & Dragons: The Book of Vile Darkness (2012, também de Lively), houve este Labirintos & Monstros / Mazes & Monsters (1982, de Steven Hilliard Stern, diretor de cults da era VHS como Nova York: Terra de Ninguém e Duelo no Asfalto), fortemente inspirado em D&D, como o título explicita. Seu elenco é encabeçado por um ainda desconhecido, e francamente bastante canastrão, Tom Hanks - que, um ano antes, havia aparecido brevemente em outro filme de horror, o slasher Trilha de Corpos. Portanto, Hanks iniciou sua carreira fazendo os tipos de filme que seu mega-desconhecido irmão Jim (de Xtro 3: O Massacre e Blackops) fez a vida inteira. L&M é a sua primeira participação grande. Há ainda Vera Miles (Psicose 1 e 2), como sua mãe alcoólatra, e Chris Makepeace (Vamp: A Hora dos Vampiros) como o nerdmaster depressivo Jay Jay.
''Labirintos & Monstros é um RPG (Role Playing Game), um jogo aparentemente inocente, onde os jogadores criam personagens imaginários em um mundo fantasioso de terrores inventados. Mas, nesse caso, pode haver uma falta de distinção entre vida e fantasia - com a possível perda da vida durante o processo.''
Trocando o ''Dungeons'' e o ''Dragons'' por ''Mazes'' e ''Monsters'' (há todo um cuidado para não dizer o nome de sua inspiração - os personagens chegam a falar ''caverns'' e ''caves'', e nunca ''dungeons''; mas ao menos um ''Grande Dragão'' é mencionado lá pelas tantas, numa cena muito bizarra, que Hanks talvez queira apagar de sua trajetória), Labirintos & Monstros foi a primeira encarnação do famoso RPG para o cinema. Mas, lendo acima a frase de abertura do filme, poderíamos imaginar que a trama (também com fortes referências à Tolkien) está mais para o controverso Vampiro: A Máscara, do que para o idolatrado D&D. Tal ''brincadeira'' servirá como um caótico misto de terapia e entretenimento levado as últimas consequências, com seus participantes lidando com problemas reais através do tabuleiro: ''não podíamos ver monstro algum, somente a morte da esperança''.
Este jogo ganhará vida (literalmente) por um grupo de jovens algo desajustados e com problemas familiares - os pais controladores são presença garantida aqui. Hanks faz o viciado em recuperação no tal jogo, tentando largar a doença e tendo que encontrar forças sobre-humanas para enfrentar a constante tentação do retorno.
Como ficou bem claro até agora, o filme (uma fantasia com elementos de terror) adentrará o território do subgênero ''RPG mortal'', visto em produções díspares como Quinteto (1979, de Robert Altman) e Sangue Eterno (2001, de Jorge Olguín). Algo mais ou menos parecido também ressurgiu no recente Ch@t: A Sala Negra (2009, de Hideo Nakata).
''O seu Controlador de Labirinto está junto de vocês, invisível aos seus olhos. Agora... Que a jornada inicie.''
É interessante perceber como o universo D&D foi retratado de maneira radicalmente diferente em quase todas suas adaptações no cinema e na TV. Com exceção dos similares dois últimos filmes live action (parecidos por serem na mesma vertente e do mesmo diretor; houve uma preocupação com a fidelidade após o completo fiasco do filme de 2000), Labirintos & Monstros não tem nada a ver com o adorado desenho animado A Caverna do Dragão - e os dois também não possuem semelhanças com o desastroso Dungeons & Dragons: A Aventura Começa Agora, um dos filmes mais detestados já feitos, com seu elenco de estrelas (Jeremy Irons, Thora Birch, Marlon Wayans) pagando um mico tremendo.
Labirintos & Monstros é a abordagem mais original e acessível da seleção, focando nos jogadores ao invés dos personagens - fazendo então empolgantes bastidores dos que habitam o jogo. Há um contra: o romance na história é um tanto vergonhoso, rendendo diálogos fracos que comprometem o fluxo geral. Ainda assim pode ser dito que é o mais adulto, e enfim menos nerd (parece até ser anti-nerd, com uma imagem possivelmente pejorativa dos jogadores de RPG), das cinco versões. É D&D para quem não está habituado ao mundo D&D.
A princípio iria mesmo se chamar Dungeons & Dragons - seria engraçado ver algo anti-RPG usar o nome do RPG mais famoso de todos - e Rona Jaffe baseou seu romance em um caso real de RPG se tornando mortal.
O filme de Stern é uma intrigante curiosidade oitentista que merece uma espiada, ou uma revisão. Traz uma abordagem bastante interessante da alienação e demais horrores de ser jovem.
Recomendado.
PS: E nem adianta disfarçarem a fonte de inspiração, que até os leigos sacam que isso daqui é D&D. Trechos dos guias do Leonard Maltin e da dupla de patetas Martin & Porter, respectivamente:
''Four college students become involved in the medieval fantasy world of game-playing. Tom Lazarus's intriguing Dungeons & Dragons script from Rona Jaffe's book makes this an engrossing thriller.''
''... College students whose interest in Dungeons & Dragons becomes hazardous.''
É isso aí.
''Essa caveira pode nos ajudar?''
''Só o tempo dirá.''
''Labirintos & Monstros é um RPG (Role Playing Game), um jogo aparentemente inocente, onde os jogadores criam personagens imaginários em um mundo fantasioso de terrores inventados. Mas, nesse caso, pode haver uma falta de distinção entre vida e fantasia - com a possível perda da vida durante o processo.''
Trocando o ''Dungeons'' e o ''Dragons'' por ''Mazes'' e ''Monsters'' (há todo um cuidado para não dizer o nome de sua inspiração - os personagens chegam a falar ''caverns'' e ''caves'', e nunca ''dungeons''; mas ao menos um ''Grande Dragão'' é mencionado lá pelas tantas, numa cena muito bizarra, que Hanks talvez queira apagar de sua trajetória), Labirintos & Monstros foi a primeira encarnação do famoso RPG para o cinema. Mas, lendo acima a frase de abertura do filme, poderíamos imaginar que a trama (também com fortes referências à Tolkien) está mais para o controverso Vampiro: A Máscara, do que para o idolatrado D&D. Tal ''brincadeira'' servirá como um caótico misto de terapia e entretenimento levado as últimas consequências, com seus participantes lidando com problemas reais através do tabuleiro: ''não podíamos ver monstro algum, somente a morte da esperança''.
Este jogo ganhará vida (literalmente) por um grupo de jovens algo desajustados e com problemas familiares - os pais controladores são presença garantida aqui. Hanks faz o viciado em recuperação no tal jogo, tentando largar a doença e tendo que encontrar forças sobre-humanas para enfrentar a constante tentação do retorno.
Como ficou bem claro até agora, o filme (uma fantasia com elementos de terror) adentrará o território do subgênero ''RPG mortal'', visto em produções díspares como Quinteto (1979, de Robert Altman) e Sangue Eterno (2001, de Jorge Olguín). Algo mais ou menos parecido também ressurgiu no recente Ch@t: A Sala Negra (2009, de Hideo Nakata).
''O seu Controlador de Labirinto está junto de vocês, invisível aos seus olhos. Agora... Que a jornada inicie.''
É interessante perceber como o universo D&D foi retratado de maneira radicalmente diferente em quase todas suas adaptações no cinema e na TV. Com exceção dos similares dois últimos filmes live action (parecidos por serem na mesma vertente e do mesmo diretor; houve uma preocupação com a fidelidade após o completo fiasco do filme de 2000), Labirintos & Monstros não tem nada a ver com o adorado desenho animado A Caverna do Dragão - e os dois também não possuem semelhanças com o desastroso Dungeons & Dragons: A Aventura Começa Agora, um dos filmes mais detestados já feitos, com seu elenco de estrelas (Jeremy Irons, Thora Birch, Marlon Wayans) pagando um mico tremendo.
Labirintos & Monstros é a abordagem mais original e acessível da seleção, focando nos jogadores ao invés dos personagens - fazendo então empolgantes bastidores dos que habitam o jogo. Há um contra: o romance na história é um tanto vergonhoso, rendendo diálogos fracos que comprometem o fluxo geral. Ainda assim pode ser dito que é o mais adulto, e enfim menos nerd (parece até ser anti-nerd, com uma imagem possivelmente pejorativa dos jogadores de RPG), das cinco versões. É D&D para quem não está habituado ao mundo D&D.
A princípio iria mesmo se chamar Dungeons & Dragons - seria engraçado ver algo anti-RPG usar o nome do RPG mais famoso de todos - e Rona Jaffe baseou seu romance em um caso real de RPG se tornando mortal.
O filme de Stern é uma intrigante curiosidade oitentista que merece uma espiada, ou uma revisão. Traz uma abordagem bastante interessante da alienação e demais horrores de ser jovem.
Recomendado.
PS: E nem adianta disfarçarem a fonte de inspiração, que até os leigos sacam que isso daqui é D&D. Trechos dos guias do Leonard Maltin e da dupla de patetas Martin & Porter, respectivamente:
''Four college students become involved in the medieval fantasy world of game-playing. Tom Lazarus's intriguing Dungeons & Dragons script from Rona Jaffe's book makes this an engrossing thriller.''
''... College students whose interest in Dungeons & Dragons becomes hazardous.''
É isso aí.
''Essa caveira pode nos ajudar?''
''Só o tempo dirá.''
Esse era esse filme que eu estava tentando me lembrar para escrever para voce no e-mail que lhe enviei agora á pouco, só me lembrava que tinha o Tom Hanks no elenco dele o titulo me fugiu da cabeça... esse filme já não passa faz um tempão na TV Aberta eu assisti ele varias vezes ,a historia me deixou assustado na epoca que assisti,pois um jogo ou o fanatismo por ele podem destruir a sua mente ao ponto de voce imaginar que tudo esta vendo é real ( mas,não é ! e sim uma fantasia da sua mente ,mas você não quer voltar para a realidade e se tranca em outro mundo paralelo da sua mente) para mim é muito apavorante .. nossa mente tem um poder destrutivel sobre nós.. acho que este filme passou na Sessão de Gala em sua primeira exibição e ultima que eu assisti ele acho foi no começo de 90 em um Corujão na mesma emissora ,que no caso é a Rede Globo,Valeu por esta postagem,Marcio Mans ,aguardamos á proxima.
ResponderExcluirHey.
ResponderExcluirCurioso como a atriz Wendy Crewson, um ano depois do Labirintos & Monstros, esteve em outro filme parecido: A Morte ao Vivo (Skullduggery).
Na época que o M&M (Mazes & Monsters) foi feito, estava rolando nos EUA toda uma campanha anti-D&D organizada por pais preocupados, que consideravam D&D coisa do Cão, capaz de levar jovens à psicopatia. Interessante pacas isso.
Queria conseguir a VHS do filme lançada aqui pela Screen Life... (Tomara que o filme saia em Blu-ray. Lá fora, é claro, já que aqui nem em DVD foi lançado.)
ERRATA = Disse ali no texto que o Dungeons & Dragons: The Book of Vile Darkness não foi lançado no Brasil. Na verdade, ele saiu em home video com o título de Dungeons & Dragons: O Livro da Escuridão.
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