segunda-feira, 23 de maio de 2016

Argento Essencial (Blu-ray duplo da Versátil)








O lançamento mais importante em Blu-ray no Brasil até hoje, na minha modesta opinião: Argento Essencial, com Prelúdio para Matar no disco 1 e Suspiria no disco 2, as duas maiores obras do mestre italiano. A Versátil já havia editado os também grandiosos Metrópolis e Kubrick Essencial nesse ano, mas dessa vez eles atingiram o grau máximo de genialidade.

Acabei de pegar essa preciosidade, e dei uma forma de improvisar imediatamente alguns scans off-lar - a capa e a contracapa da luva foram fotografadas antes mesmo de tirar da embalagem. Só não fiz capturas dos dois belos posters que acompanham a edição. E uma coisa que precisa ser dita: foi a segunda vez na história que comprei um produto da Versátil no lançamento, encarando os preços não tão convidativos assim praticados pela empresa. (A outra vez havia sido Cinema Yakuza Volume 1, em Dezembro de 2014.) Não curto pegar algo no lançamento, mas Argento Essencial foi um acontecimento totalmente especial, além de irrecusável. O meu palpite é o de que o box deverá esgotar ainda esse ano - se não em questão de uns quatro ou cinco meses - o que fará com que neguinho saia vendendo o produto no Mercado Livre por preços exorbitantes.

Além das transfers impecáveis (me baseando no que é dito no vídeo do Cinema Ferox, já que ainda não testei nenhum dos dois discos), dos vários extras, e do BD duplo estar enluvado e com um belo tratamento de capa e arte interna, há uma outra ótima sacada, também utilizada nos boxes em DVD O Cinema de Mizoguchi 1 & 2: excelentes depoimentos críticos produzidos pela própria Versátil, uma tática que espero ver sendo usada mais vezes num futuro próximo. Uma escolha muita ágil com certeza.

As únicas duas reclamações são a de que a luva poderia ser um pouco mais forte e resistente (não que seja frágil ou algo assim - mas poderia ser mais poderosa, o que a deixaria perfeita; percebi na Cultura que algumas luvas estavam levemente ''abaladas'', por assim dizer, apesar de estarem no lacre), e o preço que, por R$ 89.90, acaba sendo um pouco salgado; R$ 79.90 no lançamento ficaria bem bacana. Como a série Essencial teve seu início muito recentemente, com Kubrick Essencial, não fiquei sabendo até o momento de alguma promoção envolvendo os BDs da coleção - mas espero que algo assim aconteça, já que, novamente, R$ 89.90 vai um pouco além do tolerável.

Esperar agora que a Versátil lance um Bava Essencial (quem sabe uma ''dobradinha Black'', com Black Sunday e Black Sabbath, ou ''Blood', com Blood and Black Lace e Bay of Blood), além de, é claro, uma edição definitiva de Zombie: A Volta dos Mortos, do mestre supremo Lucio Fulci. A Trilogia do Inferno também seria muito bem-vinda, mas aí seria melhor fazer lançamentos individuais dos filmes - assim como esperar pela transfer definitiva de Terror nas Trevas que, mesmo na edição da Grindhouse, não está com o tratamento a altura da importância do filme. Bem, um Fulci Essencial com os três gialli dos anos 70 seria extremamente imperdível. Veremos se a Versátil reserva surpresas azuis em se tratando de Fulci e Bava.

Michele Soavi e Joe D'Amato, entre outros nomes ilustres do horror (e do giallo) italiano, como Ruggero Deodato, Umberto Lenzi e Sergio Martino, também seriam ótimas escolhas.

Deixo inclusive a sugestão para um Argento Essencial Volume 2, com Phenomena (ou Trepadeiras, hahaha) e Terror na Ópera! Sonhar não custa nada.

E que venham mais excelentes BDs pela Versátil!

A vídeo-resenha de Marcelo Carrard / Cinema Ferox no You Tube (cujo único defeito é ser curta demais - poderia ter pelo menos uns 15-20 minutos), mais o trailer do lançamento e o vídeo preview da Versátil (19:14 - 21:11):

https://www.youtube.com/watch?v=icHcfiVPgrg
https://www.youtube.com/watch?v=3VWNdtkaIqs
https://www.youtube.com/watch?v=pvBUIJapK3A

quinta-feira, 5 de maio de 2016

O Último Trem para Veneza

SKINS ON A TRAIN

O seu humilde narrador não é um expert no assunto ''filme de neo-nazista'', mas é difícil imaginar a existência duma produção do gênero que seja mais bizarra do que O Último Trem para Veneza (Night Train to Venice ou Train to Hell, dirigido por Carlo Quinterio, que, além ''disso'', só fez outro filme de ficção, além de um documentário), realizado em 1993 e só lançado dois ou três anos depois - provavelmente como tentativa de faturar uns trocados encima da consagração de seu protagonista. Tentativa não muito acertada, diga-se de passagem, já que a produção recebeu críticas bastante negativas e foi condenada as masmorras do esquecimento. O Último Trem para Veneza não é para poucos: é para pouquíssimos. Se é que é para alguém. Suicídio comercial ''at its best''.

O então desconhecido Hugh Grant (que considera O Último Trem... seu pior filme) aparece aqui - pré-fama e pré-escândalo com travecão - como um jornalista que embarcará numa viagem de trem para Veneza, onde será perseguido por um grupo de skinheads. A bordo tem também, entre outros tipos não-convencionais, um personagem Lynchiano creditado apenas como ''O Estranho'' (interpretado brilhantemente pelo grande Malcolm McDowell). Quem realmente será O Estranho? O líder dos neo-nazistas? Um ser de outro planeta? Ou o próprio Diabo? McDowell tem, em seu currículo, um amontoado de trabalhos estranhos e enigmáticos, como Um Homem de Sorte, Hospital de Malucos, Alguém Está Chamando e Louco, Eu?, mas este filminho obscuro leva o troféu de mais confuso e anormal entre as anomalias freakshow de sua filmografia.

Não espere ver aqui mais uma história linear e realista sobre skins agressores - vertente bastante presente na cinematografia mundial desde os anos 1980, com grandes trabalhos como Made in Britain e A Outra História Americana. (Este último, uma espécie de mescla entre Fuga para Odessa e o próprio Made in Britain.) A proposta d'O Último Trem para Veneza é outra: desde a abertura, já está claro que estamos diante duma obra surrealista com toques de horror, repleta de reações absurdas, hermetismo Godardiano, imagens deslumbrantes e câmera viajante. No meio da insanidade geral, rola até uma empolgante perseguição envolvendo um carro, uma moto e a possível intervenção do sobrenatural.

Nada é muito certo neste O Último Trem, e o tempo todo ficamos com a impressão de presenciar uma série de sonhos e pesadelos coletivos, ou duma viagem de ácido captada em celuloide - ou então de sonhos e pesadelos causados por uma viagem de ácido. Assistir este filme dá a sensação de que se está acompanhando uma sessão de cinema em plena cracolândia, com algum freak local te drogando sem que você perceba.

Sinistro ver Grant, um galã tão associado às comédias românticas, se jogar num projeto tão fora dos padrões. Ele já havia aparecido em outras duas bizarrices (A Maldição da Serpente, 1988, de Ken Russell; Lua de Fel, 1992, de Roman Polanski), mas a comparação não procede; os outros dois filmes são trabalhos refinados de cineastas consagrados mundialmente, e não uma viagem de ácido bastante arriscada realizada por um completo desconhecido.

Se há um real conteúdo por trás de tanta loucura visual, aí fica para o julgamento do espectador. Mas tenha em mente: fãs de cinema convencional devem manter distância extrema d'O Último Trem para Veneza, que só é recomendado aos iniciados em bizarrices terminais - e talvez mesmo este público seleto irá estranhar ou detestar essa viagem. É como ver uns dois ou três filmes diferentes dentro do mesmo, o que é realçado pela ruptura causada pela canção tema, que entra em cena causando uma forte sensação WTF.

Provavelmente um dos filmes mais esquisitões já feitos.



Área 51

If NASA told the truth for one day, its world would fall apart.


''Eles não são essas coisinhas fofas e amigáveis. Eles são assustadores.''

Há, nada é melhor do que resenhar filme de alienígena féla da puta. Ou de alienígena realista, se preferir.

No passado, o blog 7 Noites em Claro abordou o sensacional e aterrador Contatos de 4o Grau, em que Milla Jovovich enfrenta os scumbags do espaço sideral. (Portanto, uma mulher de outro mundo lutando contra seres de outro mundo.) E agora é hora de lidar com outro exemplar do gênero ''alien nada camarada''.

Antes de começar a postagem sobre Área 51, outro found footage de temática alienígena, gostaria de mandar um forte salve pra todos os fãs de horror que preferem aliens a zumbis, vampiros, lobisomens, múmias, etc. Mas obviamente me refiro aos ETs do mal. Spielberg é o escambau. E morte ao JJ Abrams. Esses dois paspalhos nulos são responsáveis pelas três piores atrocidades já cometidas no assunto: os patéticos Contatos Imediatos de Terceiro Grau, ET: O Extraterrestre e Super 8. Me recuso a acreditar que, no fundo, ALGUÉM realmente gosta dessas desgraças sem precedentes.

A má influência de Spielberg é tão prejudicável que chega ao cúmulo de estragar filmes que poderiam ser obras-primas, como Sinais, do M. Night Shyamalan, que destrói todo seu potencial nas patéticas redenções finais. E até o próprio Super 8 possui bons momentos, antes de despencar e se tornar uma das coisas mais imbecis já vistas.

Maldito Spielberg e seu legado de produções idiotas. ET bonzinho é o caralho.

OK. Agora que os nerds chupadores de bolas das asneiras made in Hollywood caíram fora, podemos falar sobre Área 51 em paz.

Área 51 é a mais nova incursão de Oren Peli no território found footage, estilo que ajudou a reinventar com o ótimo Atividade Paranormal, realizado em 2007 e transformado em fenômeno pop dois anos mais tarde. Peli segue então um rumo semelhante ao de Eduardo Sanchez (A Bruxa de Blair, Adorável Molly, Eles Existem): dois cineastas dedicados do found footage, subgênero que serve pra provar que nem só de pornografia vive o mundo das filmagens em P.O.V. (''Point Of View'', ou primeira pessoa).

A produção de 2015 (da Blumhouse, de Jason Blum) acompanha a trajetória de um trio de amigos ufólogos (o freak master e lesado terminal Reid, sósia do Norman Reedus (''Norman Reidus''), o segundo mais obcecado Darrin, e o menos xarope do grupo: o motorista Ben) ao hiper-secreto local do título, a gigantesca base pertencente ao Governo Americano (e/ou aos próprios aliens) dedicada aos estudos alienígenas, tecnologia avançada e ''God knows what else''.

A película é dividida em duas metades. A primeira é o planejamento, após um acontecimento peculiar e enigmático, durante uma festa, virar a vida do protagonista Norman Reidus de cabeça pra baixo. A segunda, a invasão. Para evitar spoilers, ficarei somente no planejamento, e não comentarei nada relacionado a invasão.

Após passarem três obsessivos meses vivendo como reclusos freakazóides, planejando e revisando exaustivamente cada mísero detalhe do plano, o nosso trio de bravos e loucos caçadores de criaturas do espaço segue rumo a jornada kamikaze definitiva: viajar pra cidade de Rachel e invadir o ''Fifty First State of America'', como diz na única música de sucesso duma certa banda aí. Após conversar com os fanáticos locais, o plano é colocado em prática.

O grande problema do filme: enquanto a primeira parte é EXCELENTE, a segunda chega a ser um tanto frustrante. Apresenta uma teoria bastante interessante sobre ''a base do tamanho da Suíça'', mas não consegue manter o nível de excelência visto nos 45 minutos iniciais, caindo para clichés e amadorismo.

Mas é óbvio que Área 51 merece uma conferida da mesma forma.


PS: Não sei se ele veria algo de interessante nessa resenha e/ou na próxima, ou se concordaria com alguma parte delas, mas de, qualquer forma, dedico essas duas postagens ao Christian Petermann, que faleceu essa semana. Agora nunca mais será possível vê-lo no Ronnie Von, ou assistir seus debates. Descanse em paz, Christian.

Futebol


Nunca vou entender o propósito de apoiar um time de futebol, AKA Pornô Gay Softcore. Não há nenhum conflito relevante ali, arte, questionamento ou qualquer outra coisa. O absurdo do absurdo do absurdo.