Recentemente tive o desprazer de, finalmente, assistir na íntegra o fraquíssimo slasher Turnê Assassina / Terror on Tour (de Don ''Ilsa'' Edmonds, feito em 1980) e já entrego de cara: isso daqui só não é um PURE MASSACRE por causa de alguma eficiência / clima creepy na construção das cenas de assassinato. Tirando isso, Turnê Assassina (AKA Demon Rock) é uma produção extremamente complicada e que beira o desastre total: monótona e repetitiva, com suspense quase inexistente, mortes sem imaginação e repleta de atuações sonolentas, situações nonsense e trilha sonora esquecível. Algo como uma versão muito inferior do posterior - e digno - Rocktober Blood (1984). E também não chega aos pés do hilário guilty pleasure Entrada para o Inferno / Rock N Roll Nightmare (1987), lançado no Brasil em VHS selada pela Alvorada e também em fitinha ''alternativa'' pelos primórdios do ''selo'' Tiozinho da Esquina Home Video.
A ''trama'' envolve uma famosa banda de hard rock chamada The Clowns (interpretada por uma obscura banda real intitulada The Names), que possui visual inspirado no Kiss e performances shock rock a la Alice Cooper - performances essas que, mais adiante, seriam incorporadas de forma mais radical pelo WASP e pelo Lizzy Borden. Uma vez na estrada, prostitutas e groupies são assassinadas por alguém com visual de palhaço from hell - que pode ou não ser um integrante do grupo. (E, como Turnê Assassina é anterior ao momento de explosão do metal farofa, que só rolaria três anos depois graças ao trio Quiet Riot / Def Leppard / Motley Crue, a sonoridade aqui é mais voltada mesma aos anos 70. Portanto, não vá assistir essa semi-desgraça esperando um grupo de hair metal no plot. Fica o aviso.)
A ruindade de Turnê é tão cabulosa que, entre os reviews do filme no IMDB, um dos atores dessa tralha está se desculpando pela sua atuação na bagaça: Larry ''Soup Nazi'' Thomas, que faria depois um outro slasher oitentista (Night Ripper!, de 1986) e também viveria o Osama Bin Laden no insano e divertidão Salve-se Quem Puder! / Postal (2007), do subestimado Uwe Boll, o rei dos filmes de serial-killers.
E é interessante também pensar que, mesmo tendo sido realizado logo no comecinho da 'slasher craze' (1980), o filme parece ter apenas uma meia dúzia de fãs ao redor do mundo.
E uma questão que quero levantar aqui é a seguinte: por que será que filmes tão ruins e genéricos assim conseguem gerar tanto interesse e uma tara quase que sexual nas suas respectivas VHSs? OK, o filme é dirigido por uma suposta lenda do exploitation (responsável pelos dois primeiros Ilsa - que também não são tão bons assim), não foi lançado aqui ou mesmo lá fora em DVD (Blu-ray então nem sonhar) e possui uma capa bem bacana nas suas edições em VHS nacional e da gringolândia. Mas será que esses motivos são o suficiente para justificar um interesse tão grande nessa fita? O Alex Relíquias até dá para entender, já que é fanático por slashers e por Kiss. Mas, de uma maneira geral, simplesmente não consigo entender a obsessão geral pela VHS de um slasher completamente esquecível como esse - que, em leilão do ''Uáts'', certamente teria seu percurso iniciado em abusivos e absurdos três dígitos, e, no Mercenário Livre, possivelmente seria vendido na casa dos quatro fucking dígitos. (Por falar nisso, um outro slasher totalmente vagabundo que não consigo entender o endeusamento encima da sua respectiva VHS é Massacre / The Slumber Party Massacre 2, da UniVídeo. E é um caso até mais grave do que Turnê Assassina. Afinal, Massacre saiu sim em DVD aqui, está disponível num Blu-ray de luxo nos EUA e o mais inacreditável de tudo: consegue ser PIOR do que Turnê. Inclusive, até hoje tento superar o trauma e a extrema vergonha de ter visto Massacre na tela grande em 2017. E olha que eu ainda bebia na época e, mesmo assim, foi uma experiência simplesmente deplorável. No território dos slashers, aquela porra só não é pior do que o quinto Halloween e o Return to Sleepaway Camp...)
E, falando em eventuais valores assassinos encima da VHS ''nacional da Nacional'' desse slasher bagaceira (que ainda utiliza uns sons estranhos na linha dos ''KI-KI-MA-MA'' de Sexta-Feira 13 - certamente chupados dos italianos, por mais que toda a glória seja dada ao picareta do Harry Manfredini), vale lembrar que, em Abril de 2015, cheguei muito perto de pagar R$ 45 nela numa negociação que nunca aconteceu com o lastimável Roqueiro Anônimo - que, como já comentei aqui, só não é mais baitola do que o Mel Cabaçon (heroico nos filmes, mal caráter espancador de mulheres na vida real) gritando ''LIBERTINAGEM'' no final do indescritivelmente patético Cuzão Valentão / Bullshit Heart, lixão fantasioso e oscarizado de 1995. Naquela ocasião, decidi no último instante que não iria mais negociar porra nenhuma com esse sujeito nunca mais, por mais que ele tivesse um zilhão de fitas interessantes para possíveis trocas. Afinal, absolutamente nada justifica negociar qualquer coisa com os queimados desse meio. E, de boa, após assistir Turnê agora, fica claro para mim que essa fita valeria somente uns 20-30 reais para mim no máximo do máximo. E, sim, mesmo me considerando um fã hardcore de slashers, não acho nem a pau que essa fita valha um centavo acima de R$ 30.
É isso aí. Turnê Assassina só interessará mesmo aos completistas mais fanáticos dos slashers e/ou aos fãs de filmes com temática rock N roll, os chamados rocksploitations ou metalsploitations; e mesmo essa galera slasher-maníaca / rock N roller / headbanger dificilmente conseguirá encontrar algum mérito nessa tranqueira.
Observação adicional: muito infelizmente, essa prática de cobrar preços grotescos-surrealistas-pornográficos por fitinhas de filmes fuleiros de terror não é exclusividade do Brasil, do Mercado Lixo e do What's Up the Ass. Prova disso é o ''precinho camarada'' que estão pedindo na VHS americana de Turnê Assassina na Amazon:
https://www.amazon.com/Terror-Tour-Dave-Galluzzo/dp/B000MC6JCO