Retorno aqui para comentar o OUTRO giallo do Umberto Lenzi de 1972, levemente melhorzinho do que o filme do post anterior.
Bem, A Lâmina de Aço é uma fita muito requisitada dentro do infame Big VHS Brother Brasil por três motivos: por ser da Mac, por ser giallo e por ser do Umberto ''Cannibal Xerox'' Lenzi, um dos maiores picaretas do cinema carcamano. Como os BBBs do VHS não possuem interesse em assistir e debater filmes, e estão muito mais focados em ostentar fitas ''for the fuck of it'', o conteúdo em si d'A Lâmina acaba passando batido. E vou te falar: se o resultado final do filme em si pesasse na avaliação da sua VHS via Mac, aí o seu valor cairia drasticamente.
Afinal, vamos ser completamente e brutalmente sinceros aqui: como diabos respeitar um thriller de serial-killer em que os assassinatos ocorrem offscreen, sendo que a única morte onscreen é a - morte autêntica - do touro, logo na abertura, numa sequência de tourada real? Aliás, sequência essa que NÃO ADICIONA PORRA NENHUMA A TRAMA, e só está lá para reforçar o desprezo do Umberto Lazy com os animaizinhos. E, para piorar, ela ainda termina com uma frase do Edgar Allan Poe jogada aleatoriamente na tela, tentando dar um tom de profundidade ao filme. Sem contar que ainda tem um erro de grafia ali (''wich'' ao invés de ''which'' - como podem ver na imagem lá no final do post). É de fazer o Poe dar piruetas no túmulo, até morrer pela segunda vez...
Após essa abertura deplorável e ridícula (e convenhamos que a tourada é uma tradição totalmente detestável e que jamais deveria ter existido), somos apresentados a nossa protagonista que, após um evento traumático na infância, ficou muda. Ela é interpretada pela Carroll Baker, novamente, na sua quarta colaboração com o Lenzi. Após seus dias de glória e fama, Baker entrou na mais pura decadência, e a saída foi engolir o orgulho e firmar essa parceria desastrosa com o Lenzi.
Nossa heroína, numa vila espanhola, se une a alguns familiares, entre eles sua prima cantora, vivida por Evelyn Stewart, figura totalmente batida dos gialli, tendo aparecido em um zilhão de filmes do estilo - incluindo até mesmo um tal de Premonição (título de home video e TV de Sete Notas Fatais, talvez, talvez o melhor giallo de Lucio Fulci - digo talvez porque os outros dois da década de 70 também são incríveis).
O problema é que ela será assombrada por um serial-killer que ronda as proximidades, e também por simbolismos satânicos pintando aqui e ali. Satanismo esse que torna A Lâmina em um exemplar do ''giallo satanista'', subsubgênero que também inclui o risível Todas as Cores da Escuridão, do mesmo ano, em que o canastrão Sergio Martino tentou fazer uma versão giallo do clássico O Bebê de Rosemary (hahahaha - até parece que essa ideia daria certo pelas mãos do Martino) e, claro, tomou devidamente no cu, com um resultado que só não é mais embaraçoso do que o Bozotário falando que ''pintou um clima'' entre ele e a venezuelana de 14-15 anos.
Aí, para piorar tudo, nossa personagem principal terá uma overdose de flashbacks aleatórios e supostamente delirantes (em que, novamente, seremos ''presenteados'' com as imagens do pobre touro sendo torturado até a morte), até chegar no triplo ''plot twist'' do final (que o Lenzi tirou do cu dele para tentar surpreender o público), uma piada total que trata o espectador como otário. Para piorar, o primeiro acontecimento ali já havia ocorrido no primeiro giallo do Lenzi, o também mediano O Louco Desejo (Orgasmo, de 1968, também com a Baker), e voltaria a acontecer no último giallo do Lenzi, o ultra-hiper-mega-deplorável A Passageira (Hitcher in the Dark, de 1989). Já o segundo twist seria reprisado pelo Lenzi em outro giallo do cidadão, Spasmo, de 1974. E o terceiro twist é simplesmente um plágio de uma revelação de uma das obras-primas do mestre Jacques Rivette, o mais icônico mestre da nouvelle vague francesa. (Lembrando que Lenzi já havia chupado a NV francesa na última cena d'O Louco Desejo, que chupinhava a conclusão de um dos filmes mais lindos do Jean-Luc Godard.)
Mas devo reconhecer: nem tudo está perdido em A Lâmina de Aço. E é justamente por isso que fico ainda mais frustrado com o filme, já que ele dá um jeito de estragar suas qualidades.
Afinal, A Lâmina definitivamente tem o seu potencial, algo evidenciado em algumas boas cenas de isolamento e tensão em meio a névoa e as belas paisagens espanholas. Sem contar que tem um detalhe curioso: a presença da casa central perto do cemitério, quase uma década antes lá do clássico do Fulci - e primeiro post da história desse blog.
Uma pena então que esses momentos dignos de suspense e atmosfera são minoria, com a maior parte da duração sendo preenchida por situações genéricas e mal conduzidas, que em nada se parecem com as já citadas partes de qualidade. E uma coisa é certa: em A Lâmina de Aço, quanto mais personagens nós temos em cena, pior o filme fica.
É isso. E, entre as imagens abaixo, os pitacos do saudoso - só que não - Rubinho Ewald Filho sobre o filme lá em meados de 1987 ou 1988, quando o mesmo foi lançado em VHS pela Mac.