As quatro coisas que mais escutei em 2021 até o presente momento são, facilmente, Berlin (EUA / new wave / 80s), Stage Dolls (Noruega / hard rock & AOR / 80s), Natalie Imbruglia (Austrália / pop & pop rock / 90s) e a banda abordada nesse novo post: Fake Number (Brasil / pop punk & emo / 2000s). (Há, desses quatro nomes, só Stage Dolls possui vocal masculino. Se bem que muitos até poderiam considerar SDs - uma espécie de mistura duma certa banda japa feminina oitentista com o melhor do Def Leppard e do Bryan Adams - muito mais ''som de menininha'' do que os outros três ali, hehehe...)
E, antes de chegar no TOP 10 do Fake Number (às vezes abreviado para FKN ou para F#), eu gostaria de falar os meus cinco motivos por gostar tanto do nome da banda:
1) Um segredo nunca revelado.
O nome da banda é um segredo que nunca foi revelado, e que, supostamente, só os integrantes da formação original sabem o significado. Só esse tom de mistério (a la Down Boys do Warrant, a minha canção hard favorita, cujo significado foi levado pro túmulo pelo Jani Lane) já seria suficiente para eu gostar tanto do nome da banda.
2) Tom autodepreciativo.
Eu adoro esse tipo de nome que parece que a própria banda está se denegrindo, tipo - em escala muito maior - Anal Cunt, ou então casos mais políticos e intensos tipo as também nacionais Gestapo - que contava com o Negrete do Legião Urbana - e AI-5.
3) Banda de ''fake emo'' com ''Fake'' no nome.
Para quem está por fora, o início do emocore - ou ''emotional hardcore'' - se deu na metade dos anos 80. Aí, para os puristas, tudo que veio nas décadas seguintes é ''fake emo'', já que distorce aquele tipo de sonoridade barulhenta e raivosa da década de 80 e tende a apresentar letras menos politicamente engajadas do que as bandas precursoras do estilo. Dessa forma, o emo indie e low-fi do anos 90 seria o ''fake emo'', o emo pop punk dramaticamente deprê dos anos 2000 seria o ''fake fake emo'' e a fase final do emo no mainstream, que foram as bandas coloridas e alegres (que o Restart tentou nomear de ''happy rock'' no Brasil), seria o ''fake fake fake emo''. E, como o Fake Number é uma banda de ''fake fake emo'' que, em alguns momentos, certamente flertou com a estética e a sonoridade dos grupos coloridos, eu acho simplesmente genial pensar que é uma banda com ''FAKE'' no seu nome.
4) A incomunicabilidade do nome.
O significado de ''Fake Number'', para mim, é a incomunicabilidade, a eterna desesperança dos relacionamentos em geral, mas também da nossa estadia na Terra, tentando se encaixar em alguma coisa e só quebrando a cara. Por exemplo, ''Número Falso'' de telefone ou de endereço, no sentido de não ser possível alcançar a pessoa desejada. Não sei se estou conseguindo explicar direito, mas esse é o real sentido do nome para mim: a impossibilidade dos relacionamentos darem certo e também a impossibilidade de ser realmente feliz vivendo num mundo tão fodido quanto o nosso.
5) Banda que possui uma faixa própria com seu nome.
Se, no mundo do heavy metal, é comum uma banda ter música com seu nome (Iron Maiden, Manowar, HammerFall, etc), nos gêneros e subgêneros do rock isso não é nada comum. E, se tratando de emo, eu só consigo pensar em bandas que possuem nome de música de OUTRAS bandas. Por exemplo: Dance of Days (que retirou o seu nome duma das primeiras bandas da história da ''emolândia'', o Embrace), Scary Kids Scaring Kids (que tirou o nome duma canção do Cap N Jazz, ''real'' emo dos anos 90 - uma contradição por si só...) e Dead! (que se chama assim por causa daquela música completamente maravilhosa do My Chemical Romance pré-chupação de bolas). Mas vamos lá: alguém aí conseguiria citar alguma banda emo com uma faixa própria que possua o seu nome? Bem, eu só conheço o Fake Number. E, OK, a faixa em questão é só a intro do álbum de estreia (''esse número de telefone não existe, não existe, não existe...'' - sensacional), mas é sim um caso de banda emocore com uma faixa que possui o seu nome. (... em outros casos, o mais próximo disso é o fato do Restart ter uma música chamada Recomeçar...)
Enfim...
O FKN durou de 2006 a 2014 (sendo que só a vocalista Elektra e o guitarrista Pinguim permaneceram em todas as formações), lançou três álbuns de estúdio (Cinco Faces de um Segredo, de 2007, Fake Number auto-intitulado de 2010 e Contra o Tempo, de 2012) e encerrou as atividades em 2014. Aposto que o fim se deu por três motivos fortes: o fim da MTV Brasil (que dava um apoio absurdo a essas bandas todas), o fim da moda emo (que levou essas bandas todas de volta ao underground) e uma coisa que não é citada mas que aposto que influenciou e muito, que foi o fim demasiadamente trágico do Charlie Brown Jr. - a banda favorita do Pinguim e também muito adorada pelo batera André Mattera e, numa dose menor, pela ''Elek'' também.
Bem, introduções feitas, vamos ao meu TOP 10 Fake Number agora. E um pequeno detalhe: eu recomendo ouvir essas músicas nas suas versões originais de estúdio, sejam só os áudios ou os clipes oficiais (daquelas que possuem clipes, ou seja, as cinco primeiras colocadas) e NÃO nas versões ao vivo - já que, muito infelizmente, a Elektra sempre teve o péssimo hábito de não cantar as músicas totalmente na íntegra, omitindo algumas partes delas, e a banda também deixava a desejar na questão dos backing vocals.
10. MEU FUTURO
Uma canção mais sonoramente pra cima na curta discografia do F#. Uma composição de alto nível que poderia, muito bem, ter virado hit se bem trabalhada como single / videoclipe.
9. ESQUECER
A excelente e atmosférica sonoridade se encontram com ótimos versos e refrões (ou refrãos, sei lá), nessa faixa essencial do período pós-debut da banda.
8. MAIS DO QUE PALAVRAS
Ótima faixa do debut da banda. A letra diz algumas coisas sobre o tempo gasto ouvindo as pessoas erradas, duma forma mais ou menos parecida com Nothing Ever Changes But the Shoes dos Wildhearts. Mas também parcialmente aborda a questão dos relacionamentos indo pro vinagre.
7. APENAS MAIS UM
Outra do disco de estreia, mantendo a habitual crítica e rebeldia, elementos bem comuns na carreira da banda como um todo, mas ainda mais presentes nessa fase inicial. Assim como na canção acima, noto aqui uma possível influência do debut da Pitty, Admirável Chip Novo, tanta no som relativamente pesado quanto na letra ácida criticando a condição humana e as maldades do sistema - mostrando que F# não fazia só letra de relacionamento não.
6. CONTO DE FARSAS
Eu gosto tanto de Conto de Farsas (terceira faixa do debut, seguindo a intro e Segredos Que Guardei), mas tanto, que cogitei seriamente rebatizar o Big VHS Brother Brasil de Conto de Farsas. Uma canção incrível e um clássico do pop punk BR.
5. OUTRO MUNDO
Uma belíssima canção de amor, já na fase contando com o altamente técnico Mattera (vindo do Cueio Limão, banda que tem aquela música Quem Matou o Bozo? - que teria um significado completamente diferente hoje em dia...) substituindo o Tony nas baquetas. O clipe também é animal, apesar da propaganda gratuita da patrocinadora Adidas. (De boa, a única coisa boa chamada ADIDAS é a clássica música do Korn tentando soar como Nine Inch Nails - mas, ironicamente, soando melhor do que tudo que o NIN fez da segunda metade dos anos 90 adiante.)
4. ÚLTIMO TREM
''E eu peguei o último trem pra lugar nenhum. Bem longe deixei memórias que insistem em me incomodar. Sempre fica alguém que nos faz querer voltar... Eu peguei o último trem... Não me faça voltar.'' Investindo numa vibe anti-nostalgia e focada no presente e no futuro, Último Trem é um clássico absoluto da banda. Já o clipe segue a mesma pegada da também maravilhosa All I Want, do A Day to Remember (banda que conta com o Alex Gouveia no vocal, hehehe), de mostrar no clipe integrantes de várias bandas do estilo. Assim nós temos a gostosa da Mel e a ainda muito mais gostosa ainda da Dedê, vocalista e guitarrista do Lipstick (banda que, curiosamente, já havia feito um clipe mais ou menos parecido com Eu Vou pro Roquenroll), respectivamente, além de integrantes de grupos como Hateen (que ainda estava com o cancelado Japinha na bateria), NX Zero, Fresno (na formação que contava com o Mr. Dado no line-up, como vocês podem ver nas capturas mais abaixo - mais engraçado do que isso só na ocasião em que o Guitardo virou o terceiro guitarrista do Fake Number, cuja captura também deixei exposta ali embaixo, hahaha) e outras. Inclusive, até o André ''Pindé'' Dea (Violet Soda) pode ser visto no vídeo, como integrante do Sugar Kane. E por falar em Violet... Aí terei que entregar um fator negativo do clipe. Existe aquela banda horrorosa, o Mimimi Trago, que costuma tocar junto do Violet. Pois bem, eu terei que informá-los que, apesar de não estar creditada no vídeo, a vocalista feminazi daquela bandeca horripilante aparece sim - muito infelizmente - num trecho desse clipe, bem rapidamente, de dois a três segundos. Afinal, naquela época ela estava investindo numa carreira - bastante genérica - de cantora de pop punk ''emonóide'', e que até contou com os ''talentosíssimos'' Lucas e Tavares - ambos do recém massacrado por aqui Fresno - participando duma faixa. Aliás, eu adoraria descobrir o motivo dela não estar creditada, já que, no final, eles dizem os nomes de todas as bandas que aparecem no clipe... Mas, anyway, Último Trem ruleia e soa como um Hey Monday cantado em português. (HM esse que chegou a dividir palco com o F# em 2011. Incrível pensar que, em um momento da história da humanidade, Fake Number e Hey Monday tocaram juntos. Eu certamente teria morrido de tanta emoção nesse show.)
3. CONTRA O TEMPO
''E eu desejei poder voltar pro passado só mais um dia. E agora... SOU EU CONTRA O TEMPO.'' Além da sonoridade excelente, a letra também é uma das minhas preferidas do grupo, seguindo a mesma linha ''FUCK THE PAST'' de Último Trem. E, no clipe, nós temos o ''batera chamado Mattera'' arrebentando tudo, e provando, novamente, que, nesse cenário emo BR, ele só perdia mesmo pro Eloy Casagrande - que, entre o André Matos solo e o Sepultado, tocou bateria no Gloria.
2. AQUELA MÚSICA
''E eu me perdi tentando te encontrar...'' Aquela Música possui duas versões (uma no debut, a outra no álbum seguinte) e, assim, dois clipes diferentes. Pessoalmente gosto ainda mais da segunda versão (assim como também gosto mais do segundo clipe), que ficou mais trabalhada, com mais detalhes, versos e backing vocals. Uma bela balada, com a Elektra gata pacas principalmente no segundo clipe. E, por falar nisso, é engraçado ver o sósia do Felipe Neto nesse segundo clipe, já que o Felipe Neto original odiava essas bandas todas :)
1. SEGREDOS QUE GUARDEI
''Eu me desculpei... Segredos que guardei... Mentiras que escondi... Por querer o seu bem... Não te contei, não te contei...'' Bem, dizer o que da MELHOR CANÇÃO DO EMO NACIONAL? Se alguém me perguntasse ''tio Marcio, o que é emo?'', eu colocaria Segredos Que Guardei pra pessoa ouvir, pra entender a essência do estilo. A letra é sofrida e ''emotiva'' (hehe), o refrão é desespero puro e algo simplesmente cabuloso até a medula, e o clipe é maravilhoso, com a Elektra simplesmente linda e sensacional, me fazendo ter vários pensamentos impuros - e conseguindo fazer com que a estrela do clipe, a famosa cosplayer e VJ Mari Moon, fique feia em comparação. Aliás, por falar nesse clipe, tem algumas coisas nele que me lembram muito o primeiro clipe do MCR, Vampires Will Never Hurt You (que algumas fontes esculhambas dizem ser o segundo, após o remake de Audition - mas é sim o primeiro, com o remake de Audition vindo só depois). Enfim... Poucas vezes a angústia adolescente foi retratada de maneira tão brutalmente sincera quanto em Segredos Que Guardei. Simplesmente o clássico dos clássicos, pela melhor banda do estilo no Brasil.
MENÇÃO HONROSA: VOCÊ VAI LEMBRAR
Particularmente a acho uma das mais românticas do F#, senão a mais. ''Você tem que saber que o meu sorriso é pra você, como são todas as canções, que dizem entre versos e refrões que o meu amor também é seu.'' Só acho que, talvez, o refrão poderia ser mais elaborado, com uma letra maior. De qualquer forma, gosto muito de Você Vai Lembrar, uma composição contagiante pacas, que ainda possui aquela impagável performance no Show Livre, de 2010, com a Elektra batendo cabeça e fazendo air guitar com aquele penteado ''cabelo tampando os olhos'' :) Como diabos ela conseguia enxergar alguma coisa daquela forma, hahahahaha? Elek é mó barato.
(...)
PS: E acho interessante pensar que eu estive na cidade natal do Fake Number, Lorena (interior de São Paulo), no ano que a banda acabou, 2014. Na ocasião, fui na ''Silent Hill brasileira'' visitar uma videolocadora que estava se desfazendo do seu acervo de VHS, vendendo cada fita por R$ 1. Acabei levando 70 fitas e deixando quase 100 para trás. Lembro de até cogitar fazer uma segunda visita à cidade, mas isso nunca aconteceu.