''Cotação: BOMBA! Um trash no pior sentido do termo. Confuso e sem a mínima direção, ritmo narrativo ou roteiro coerente. Imperdoável amadorismo que ainda desperdiça a impagável Mary Woronov.'' - Guilherme de Martino no Guia de Vídeo: Terror (Editora Escala)
De tanto que o Ivan Ferrari recentemente malhou esse slasher oitentista, fiquei curioso para, finalmente, o assistir pela primeira vez. E posso dizer que, mesmo sabendo de antemão da sua horrenda reputação, ainda assim fiquei aterrorizado com a ruindade dessa desgraça: Teatro de Sangue não é um péssimo filme não. Ele teria que melhorar MUITO para se tornar péssimo. Isso daí só não é o pior slasher já cometido porque não é humanamente possível ser pior do que a dobradinha Return to Sleepaway Camp (que jamais deveria ter existido) e Halloween 5: A Vingança de Michael Myers (que também nunca deveria ter sido feito). Mas, depois daqueles dois atentados terroristas contra o cinema slasher, Teatro de Sangue é o que há de pior nesse ramo - de longe.
A sinopse: um cinema (e não um teatro - o ''theatre'' do título original não se refere a teatro, e é, na verdade, diminutivo de ''movie theatre'', sala de cinema portanto) que possui um histórico de desgraças é reaberto nos ''tempos atuais'' (os anos 80, é claro). E, obviamente, o passado irá se repetir através de um assassino totalmente sem graça (e que tem a identidade revelada imediatamente, eliminando a possibilidade do ''whodunit'') que sairá despachando o elenco dessa porcaria das maneiras mais toscas, porcas e amadoristicamente filmadas que você puder imaginar - de fazer ''hacks'' sem talento como Al Adamson, Herschell Gordon Lewis e Andy Milligan parecerem mestres da Sétima Arte na comparação.
Não se deixe enganar pela curta duração de 1H15Ms: essa atrocidade aqui dá a impressão de ser mais longa do que o clássico Out 1 do Jacques Rivette - lendário filme da nouvelle vague francesa com 13 horas de duração. Afinal, nada de interessante acontece em Teatro de Sangue: atuações nulas (apesar da cultuada Mary Woronov, completamente perdida nessa bomba), tentativas fracassadas de fazer humor e ainda mais fracassadas de criar suspense (apesar da trilha sonora bacaninha, a única coisa que curti no filme fora a presença da Woronov), culminando nas já citadas mortes a la filmagem infantil.
Ainda mais chocante é pensar no hype que a fita possui, chegando a custar uma grana preta net afora. Agora que assisti isso daqui (ou melhor, agora que sobrevivi isso aqui), estou certo de que eu jamais pagaria mais do que R$ 20 nessa VHS sob hipótese alguma. E só chegaria a esse valor de 20 reais por causa da minha tara (até algo irracional, admito) por slashers, ainda mais oitentistas, ainda mais desconhecidos ou quase isso.
E OK, a capa da fitinha da Screen Life é bonita (mas não tanto quanto a big box do filme lançada nos EUA sob o título Movie House Massacre - título bem mais interessante do que Blood Theatre, diga-se de passagem), mas, no instante em que um filme atinge um nível tão grotesco assim de ruindade, os fatores 'raridade' e 'arte de capa' recebem uma queda natural na avaliação geral. (Isso me lembra Paraíso da Sacanagem, fita obviamente hypada por estrelar o Sady Baby. Antes de assistir AQUILO, eu estava sim disposto a pagar algo próximo de 100 reais naquela fita. Mas, após assistir aquela DESGRAÇA NÍVEL EXTREMO, tenho a certeza de que eu jamais pagaria mais de 20 reais naquela fita. Aliás, aquele é o único filme do Sady que posso dizer que eu odeio. Nem a presença dele ou o gore ou a música roubada de Laranja Mecânica me fazem dar algum tipo de valor adicional a Paraíso da Sacanagem, uma produção originalmente digna que foi COMPLETAMENTE arruinada pelos enxertos de sexo explícito degradante, que, inclusive, nem fazem sentido na trama.)
Bem, a real é que... Não sei se conseguirei explicar isso, mas tentarei. A real é que não consigo entender isso de endeusamento geral de fita X ou Y. Ainda mais algo tão nichado como Teatro de Sangue, filme que deve ter meia dúzia de fãs no mundo inteiro. Isso de endeusamento, ou hype, ou idolatria é algo que reflete um gosto pessoal, e se torna um tanto nonsense quando é adotado por uma quantia de pessoas. Bem... Não sei se estou conseguindo me expressar direito, mas o que quero dizer é que cada indivíduo deveria decidir por conta própria qual fita é valiosa na sua vida. Isso da Teatro de Sangue ser encarada como uma fita ultra-valiosa e tal, duma maneira geral, é algo que não faz o menor sentido para mim. OK, a fita pode ser rara, mas o filme é absurdamente horroroso, possivelmente até pior do que o Paraíso da Sacanagem ali do Sady (Sady esse que pelo menos é uma figura lendária, ao contrário do Rick Sloane, diretor de Teatro, sujeito que não é lendário nem na casa dele), o que, a meu ver, retira muito do valor da fita. Se ao menos fosse algo inusitado ou exótico (tome por exemplo O Mistério no Colégio Brasil, que tem o apelo extra de ser um slasher brasileiro - sem contar que O Mistério... é uma obra-prima perto de Teatro)... Mas nem isso Teatro é: é somente mais um slasher - entre trocentos - feito nos EUA nos anos 80. Nada torna isso daqui levemente especial sob qualquer perspectiva.
Por favor, se alguém achar que essa fita vale mesmo três dígitos, pode deixar ali nos comentários a sua opinião. Estou tentando entender isso, portanto sintam-se livres para discordar de mim e dizerem as suas opiniões. Já na minha opinião, é totalmente insano cobrar ou pagar 100 reais para cima nisso daqui. Não é porque alguém, em algum lugar, eventualmente esteja disposto a pagar esse valor nessa fita que imediatamente significa que ela vale tudo isso. A loucura de um ou outro gato pingado não justifica que uma fita dessas seja alçada ao título de Santo Graal do VHS.
Enfim: também incrível é pensar que Teatro de Sangue foi lançado numa edição especial em Blu-ray nos EUA, com dois (!) comentários em áudio, introdução de 9 minutos, Q & A de 14 minutos e até mesmo uma transfer que recebeu cotação máxima no Blu-ray.com - além de um filme bônus, o segundo longa do Sloane, que também vem com comentário em áudio. Se bem que não chega a ser realmente surpreendente se pensarmos que, nos EUA, qualquer slasher já feito possui algum culto ou apelo desde o berço.
E, nessa mesma linha aí, eu posso recomendar Midnight Movie, feito nesse século. De maneira geral, é um slasher legalzinho, mas, comparado com Teatro de Sangue, MM é uma obra-prima genial. É sério: estou simplesmente chocado com a extrema ruindade de Teatro de Sangue, e acho que, tirando Return to Sleepaway e o quinto Halloween, eu nunca irei encontrar um slasher pior do que esse ou ao menos tão ruim quanto. Isso daí só vale a pena ser assistido por gente completamente fanática e completista por filmes desse naipe. Pessoas comuns devem fugir com todas as forças. (E pensar que nem mesmo o massacre que o Ivan já havia feito disso daqui conseguiu me preparar para a desgraceira que estava por vir ao dar play nessa abominação...)
(...)
A seguir no 7 Noites em Claro: finalmente, FINALMENTE o post dedicado a David A. Prior que venho planejando desde Setembro do ano passado, e que recebeu novas ideias de atualizações mês passado e também agora em Janeiro de 2022.
PS: Estava pensando aqui. Outra explicação para alguém querer cobrar ou pagar um preço altíssimo em Teatro de Sangue seria o fato de que o filme é sim relativamente obscuro... MAS só poderia justificar um preço alto assim se estivéssemos numa época pré-internet, sem ter a praticidade de assistir ao filme online (ele está completo no YouTube, aliás). Se bem que, refletindo aqui, naquela época em que a internet ainda não havia se popularizado seria muito mais fácil trombar essa VHS nos sebos e afins, já que havia uma disponibilização infinitamente maior do formato naquele período. Ou seja: por qualquer ponto de vista que eu for adotar, continua não fazendo sentido uma fita de um filme tão incrivelmente péssimo causar um barulho tão alto. Mas sintam-se livres para discordar de mim nos comentários, caso alguém aí ache que fitas como Teatro de Sangue, Chillers: Passagem para o Inferno, Massacre (The Slumber Party Massacre 2 - essa daqui é até um caso mais grave, já que saiu sim em DVD no Brasil) e outras tranqueiras atômicas merecem sim custar um valor muito alto só por serem raras, de terror e terem capas bonitas ou lindas. Já eu sou do pensamento de que o filme tem que ser minimamente interessante para justificar um hype na fita e, desses três exemplos aí, Chillers é o único filme remotamente aproveitável da trinca - mesmo também sendo um péssimo trabalho. (E, é claro, quando se trata duma tranqueira boa, tipo Prior, Andrea Bianchi, Bruno Mattei, Fred Olen Ray, etc, aí é um outro assunto. Esses caras aí são ''so bad it's good''. Mas Teatro de Sangue, Paraíso da Sacanagem e Massacre são ''so bad it's bad'', beirando o inassistível. Mas que fique bem claro: não sei se é realmente possível gostar de Teatro de Sangue e dos outros filmes que eu massacrei ali, mas, para quem eventualmente gostar deles, beleza: é compreensível que dê um super valor a essas fitas em questão. O que eu não consigo compreender nem a pau é quando se dá valor para algo - não só VHS - em termos somente de raridade ou de um hype que foi construído com o passar dos tempos. Para encurtar tudo, o que estou tentando dizer é o seguinte: eu jamais conseguiria ter um grande interesse numa fita de um filme que não me diz nada. Posso entender o lance completista, se você estiver tentando fechar um certo diretor ou até mesmo um certo selo - se bem que mesmo nesses casos eu não acharia OK pagar um valor anormal no momento que o filme fosse inaceitável - mas um caso específico como Teatro de Sangue, um filme extremamente, absurdamente péssimo, é algo que está além da minha compreensão. A real é que a extrema ruindade desse filme mexeu com a minha cabeça e vem me causando estragos irreversíveis. Ô filme ruim da porra. ''Valeu'' por essa ''dica'' aí, Ivan!)