Os Altos e Baixos do Show de Retorno do My Chemical Romance em 20 de Dezembro de 2019: Uma Análise Cautelosa e Detalhada (Parte II de II: A VINGANÇA DO GORDÃO)

WELCOME TO THE FAT PARADE :)

É interessante olhar para trás e ver que, lá na era Danger Days (é engraçado isso de banda lançar um disco arriscado e artisticamente inferior, e escolher para ele um nome que reflete isso, tipo quando o mega-decadente Megaidético lançou o pavoroso Risk), o MCR spoilou tanto o seu fim quanto o seu retorno. No clipe da não muito boa Sing, todos os integrantes da banda são mortos por Grant Morrison e seus asseclas. Vale lembrar que esse foi o último clipe realmente conceitual da banda. Já no PV de Na Na Na (a única canção genial do álbum, e que também conta com a participação de Morrison, lenda dos quadrinhos), tem aquele trecho que podemos ver uma placa que diz ''California: 2019''. E foi exatamente em 2019, na Califórnia, que a banda fez o seu show de retorno, após mais de seis anos e meio afastados da cena.

De boa: esses caras foram espertos pra caralho. Perceberam que qualquer coisa remotamente ligada ao mundo emocore estava à beira do colapso comercial, daí decidiram encerrar as atividades naquele momento. A seguir, deixaram os fãs morrendo de saudades da banda durante mais de seis anos e meio, e anunciaram seu retorno no Halloween de 2019, com ingressos custando o preço do olho do cu - que esgotaram em 2-3 minutos. São os verdadeiros Mestres do Capitalismo, ao contrário daquele YouTuber oportunista que lidera a pior banda da história do heavy metal brasileiro e mundial.

O line-up da volta conta com os quatro integrantes fixos da banda, Gerard Way no vocal, seu irmão caçula Mikey Way no baixo e os guitarristas Ray Toro e Frank Iero (que, além de tocar guitarra, também tem a função de ser o eterno amante do Gerard - Frerard na cabeça!), mais o baterista Jarrod Alexander - ou seja, acertei que Alexander seria mesmo o baterista no retorno, como vocês podem ler em vários comentários meus do Your Toba logo após o anúncio da reunião. Alexander, que já era o baterista do MCR quando a banda encerrou as atividades, em Março de 2013, só aparece em um único clipe do grupo: a bizarrice infantil (!) Every Snowflake Is Different (Just Like You), que não está creditado na lista de clipes da banda no geralmente suspeito Wikipedia. Alexander substituiu os seguintes bateras: o piromaníaco drogadão Matt Pelissier, o bully neonazista Bob Bryar (scumbag supremo com certeza, mas também o melhor batera que o MCR já teve) e o cleptomaníaco fucking asshole Mike Pedicone. Só gente fina entre os ex-bateristas do MyChem... (Não faço ideia do paradeiro atual de Pedicone, mas sei que, nos dias presentes, Pelissier toca bateria numa banda bem curiosa chamada Revenir, enquanto Bryar fica malhando seus ex-integrantes de banda net afora, falando que deveria ter espancado o Mikey quando teve a chance, além de declarar seu apoio à extrema-direita.)

Vamos então aos 11 clássicos no setlist da volta do My Chemical Romance, o único grupo mainstream realmente bom dentro da cena ''emo de shopping center'' dos anos 2000.

E ao contrário do que vocês viram no post anterior...

THIS IS THE MCR I LOVE. FUCK YEAH.

1. I'm Not Okay (I Promise)

''You said you read me like a book, but the pages are all torn and frayed. (...) I'm not okay. I'm not o-fucking-kay.''

A faixa de abertura do show é o primeiro hit do MCR, a maravilhosa I'm Not Okay, do disco [Three Cheers for Sweet] Revenge, de 2004. Aqui eles até utilizaram o mesmo diálogo de introdução do segundo clipe da canção, dirigido pelo já massacrado por aqui Marc ''O Espetacular Emo-Aranha'' Webb (engraçado pensar que o cara que ajudou o MCR a chegar ao mainstream é o mesmo cara que dirigiu o melhor clipe da Miley ever, o vanguardista Start All Over; MileyChem na veia): ''You like D & D, Audrey Hepburn, Fangoria, Harry Houdini & croquet'' (até meados de 2017, eu sempre achei que era COCAINE!), etc, etc. Um detalhe interessante é que eu sempre adorei o nome dessa música, até na época que eu não dava a mínima para o MCR... A execução de Not Okay foi muito bem realizada, mostrando que os caras continuam mandando bem a essa altura do campeonato, com a faixa etária dos integrantes variando entre os 30 e tantos e os 40 e poucos anos. Gerard nunca foi um grande vocalista, tecnicamente falando, mas continua dando conta do recado com dignidade.

2. Thank You for the Venom

''Sister, I'm not much a poet but a criminal.''

Com uma referência ao lendário porém mala master Morrissey logo no começo, Venom, o único single do álbum Revenge que não recebeu clipe, seguiu o show. Esse clássico absoluto do disco que levou o MCR ao mainstream recebeu uma inusitada extensão lá no seu final. Uma curiosidade: no dia que rolou aquela declaração do Joe Jonas (Jonas Brothers), de que o MCR poderia voltar, em Junho de 2019, eu fui no show da Lily Allen - inaugurando a minha camiseta do Revenge - e vi um cidadão com uma camiseta escrita ''Thank You for the Venom''. Quase perguntei pro cara se era por causa da música do MCR... Enfim, Venom foi outro grande momento do show de retorno dos ''Xerifes da Emolândia''. (WTF?!)

3. Give'em Hell, Kid

''What did you call me? There's no way I'm kissing that guy.''

Dizer o que da MELHOR canção do disco Revenge, Give'em Hell? Eu amo essa música. No final dela rola o trecho acima citado, que reforça a confusão sexual que se via em bandas como MCR, The Used, Panicat: The Jizzco e Fall Out Boy (esse último, um grupo que abordou sua bissexualidade de maneira BEM hipócrita - talvez, um dia, eu faça um post especial sobre a bissexualidade do FOB; que, aliás, assim como o The Used, também possui todo um link com o MCR nesse assunto). O trecho em questão, assim como nos shows do passado, não entrou nessa versão. Bem, Give'em Hell é fodástica ao extremo, e entra fácil, fácil no meu TOP 5 MCR e continuou o show com a mais pura maestria. E mostra que a banda continua sabendo como tocar esse clássico absoluto com garra e impacto, explodindo a mente de todos os felizardos presentes naquele show. Eu poderia ficar até amanhã elogiando essa canção. Aquela intro, PQP, com o baixo seguido pela guitarra e daí pela bateria, caralho, isso daqui é foda demais. ''CAN WE SETTLE UP THE SCORE?'' Isso daqui sim é MCR, porra, cambada de motherfuckers. (Aliás, por que diabos não lançaram Give'em Hell como single, no lugar da relativamente xaropeta The Ghost of You???)

4. House of Wolves

''Tell me I'm a bad, bad, bad, bad man.''

Talvez a única canção screamo do The Black Parade, House of Wolves (sem ligação com a faixa homônima e também fodona do Bring Me the Horizon), foi a primeira música do épico The Black Parade a rolar no show. Na minha opinião, Wolves tem mais cara de Revenge do que de Parade. Fez todo o sentido a escolha dela para seguir três petardos do Revenge.

6. You Know What They Do to Guys Like Us in Prison

''This is a song about getting fucked in jail and sucking dick for cocaine.''

Uma das melhores canções do disco Revenge, Prison relata o breve relacionamento entre Gerard e o vocal do The Used, Bert McCracken (que faz backing vocals na canção original), enquanto lutam para não serem estuprados e mortos na prisão. A parte que diz ''... I don't know how we're just two men...'' está falando sobre Gerard e Bert, que, na época, estavam tendo uma pausa dos seus affairs com Frank Iero e Kelly Osbourne, respectivamente. Caralho, MCR é gay demais, hahahaha. (Incrível como os melhores grupos de rock são gays ou bissexuais.) Essa canção, inclusive, recebeu um post próprio aqui no 7 Noites em Claro no ano de 2019. Nessa versão ao vivo, rolou a participação de uma tal de Sara alguma coisa (na verdade, Sara Taylor, de um grupo que eu nunca ouvi falar: Youth Code)...

8. Our Lady of Sorrows

''How wrong we were to think that immortality meant never dying.''

Uma história de balas e mágoas... Tenho uma notícia boa e uma ruim. A ruim é que, nesse show, só rolou uma única mísera canção do [I Brought You My] Bullets [You Brought Me Your Love], de 2002, o fodástico debut da banda, que conta com seis clássicos absolutos do MCR. A boa é que a canção escolhida foi justamente a melhor daquele disco, a ultra-hiper-mega-fodástica até a medula OUR FUCKING LADY OF SORROWS, um apocalipse sonoro de meros dois minutinhos, e também a música mais pesada que o MCR já gravou. Tem uns fãs mais radicais da banda, inclusive, que só gostam desse álbum, e que acham que, do Revenge adiante, o MCR se vendeu ao mainstream. Em termos de imagem e videoclipes, até dá para dizer que, sim, eles se venderam ao mainstream a partir do Revenge. Mas, musicalmente, acho que eles só se venderam mesmo ao mainstream após o The Black Parade. Mas foda-se tudo isso agora. O importante é que Sorrows mata a pau, uma canção cuja letra pode ser vista como uma precursora de Prison, com toda essa parada de destruição da raça humana, lutas e arremessos de faca e tentativa de não ser estuprado pelos scumbags gerais. Caralho, MCR é muito perturbado da cabeça :) Vai ver é por isso que é bom. Já os outros grupos daquele período eram comportadinhos, limpinhos e bonitinhos demais, e traziam uma visão de mundo totalmente iludida. Simplesmente dá vontade de vomitar as tripas ao ver um clipe do Panic at the Disco, por exemplo, uma das piores atrocidades da história da humanidade - chegando a ser difícil de acreditar quando o vocal daquela bandeca, Brendon Urie, diz que Panic foi influenciado por MCR. Mas enfim... HAIL BULLETS. HAIL SORROWS.

9. Na Na Na

''From mall security to every enemy, we're on your property, standing in a V formation. (...) Pull this pin. Let this world explode.''

Eis a única grande canção do disco que jamais deveria ter existido. Na Na Na, aliás, merece uma abordagem própria, em um post só seu. Mas vale dizer que é uma música maravilhosa que funciona perfeitamente ao vivo. Mostra que, ao contrário do que aquele seriado hypado e horrível Stranger Fags tenta passar, você pode sim ser nerd e politizado ao mesmo tempo. Não precisa ser um bobalhão imbecil só por ser nerd, saca? Vou além: acho que, com Na Na Na, o MCR adentrou o campo das bandas de extrema-esquerda como o Rage Against the Machine e o System of a Down. Enquanto isso, os outros grupinhos da cena emocore estavam falando das mesmas chatices de sempre: adolescência, namorados, namoradas, maquiagem, colegial, whatever, bla, bla, bla.

14. Teenagers

''If you're troubled and hurt, what you've got under your shirt, will make them pay for the things that they did.''

Após uma sequência bem fraca de quatro canções desnecessárias, já devidamente malhadas no post anterior, chegou a hora do bang-bang na escola, o badass single Teenagers, do disco The Black Parade. Um dos 9 hits que a banda teve, é uma das grandes canções daquele álbum sensacional, e, assim como Na Na Na, é outra que funciona magistralmente ao vivo.

16. Famous Last Words

''I am not afraid to keep on living. I am not afraid to walk this world alone.''

Sempre que se fala do quanto MCR é uma banda depressiva e os caralhos, os fãs tendem a defender que Famous Last Words é a canção para quebrar essa impressão que muitos tem da banda, oferecendo uma visão otimista da vida, falando do quanto é possível você estar sozinho e feliz ao mesmo tempo. Com essa pegada mártir, mas também positivista, eu diria que ela foi uma espécie de precursora da igualmente maravilhosa My Heart Beats for Love, última canção da obra-prima Miley Cyrus Can't Be Tamed, de 2010. (A real é que a ''dupla'' Miley Chemical Romance, junto da Taylor Swift, possuem as canções anti-bullying mais belas e poderosas da história.) Na verdade, existem os artistas como o MCR, que lidam de forma adulta e sóbria com a depressão e com tudo de ruim que existe no mundo, tentando achar uma saída para essa desgraça toda, e também existem picaretas tipo Lana Del Rey, que fazem músicas calculadas para jovens depressivos, e que querem mais que eles continuem mentalmente fodidos mesmo - já que, se eles melhorarem, talvez não queiram mais escutar os decadentes e desonestos discos dessa poser do caralho. Mas enfim. FLW, a faixa que fecha o The Black Parade (antes de surgir a escondida Blood, uma trollagem questionável porém divertida, presente na maioria das versões do álbum), é outro clássico absoluto da banda, e, junto da dobradinha The Sharpest Lives e This Is How I Disappear (que poderiam muito bem ter rolado nesse show, substituindo duas das nove escolhas infelizes do setlist), formam o lado mais heavy metal de The Black Parade - um álbum adorado até por um integrante do Slayer. Para terminar, na minha opinião, essa faixa aqui é outro momento em que os neo-góticos do MCR soaram bastante como os Manic Street Preachers da fase boa, ou seja, Richey na veia.

19. Helena

''Burning on just like a match you strike to incinerate the lives of everyone you know.''

O maior hit do MCR, e uma das músicas que mais tocaram no rádio e na MTV em 2005. Acho difícil alguém, minimamente chegado em cultura pop, não ter visto esse clipe naquela época. Para ser sincero, durante muito tempo eu não vi graça nessa canção. Foi só mesmo no ano passado que passei a enxergá-la como a grande música que ela é.

20. Welcome to the Black Parade

''Cause one day, I'll leave you, a phantom, to lead you in the summer... TO JOIN THE BLACK PARADE.''

Dizer o que da minha música favorita de todos os tempos? Enquanto Helena é o maior hit, WTTBP é o maior clássico, a canção favorita de muitos fãs da banda. Foi com WTTBP e Teenagers que eu percebi, lá em 2007, que MCR não era uma mera bandinha pop punk. ''Caralho, como pode uma banda emo ser tão boa?'' Foi ali que percebi que esses caras eram especiais. E, apesar de algumas pequenas falhas nessa performance (a melhor execução de WTTBP ever é aquela de 2011, com a participação do Brian May - não a toa, The Black Parade possui momentos fortemente influenciados por Queen), foi sim um grande momento de qualquer maneira, uma forma emocionante de encerrar o show. E isso me lembra que eu preciso sim fazer um especial The Black Parade, analisando cautelosamente todas as faixas dessa época - incluindo os B-sides.

VEREDITO:

Os altos compensaram - e muito - pelos baixos. Bem que poderiam ter filmado o show profissionalmente para um futuro lançamento em Blu-ray e 4K Ultra HD. E tomara que eles voltem pro Brasil, já que só tocaram aqui no auge, em 2008.