Recordar É Viver: Titio Marcio Massacrando Takashi Mickey Mouse em Maio de 2017 (em Algum Canto Nefasto da Web):
Sinto que, se existisse o botão de ''dislike'', essa postagem aqui seria negativada pra cachorro. Mas tudo bem, já que não estou tentando ser visto como o Cinéfilo do Ano ou algo assim. E, além do mais, sintam-se sempre livres para discordar de mim: ninguém é o dono da verdade, e isso aqui é só a minha opinião.
Vamos lá então.
Sofrendo pacas ao rever Fudô e Q...
Takashi Mickey Mouse...
NO FUCKING MERCY FOR YOU, MISTER.
***** = excelente
**** = muito bom
*** = bom
** = regular
* = fraco
BOMBA! = péssimo
Fudeu: The Nerd Generation (Fudô: The New Generation, 1996) BOMBA!
Visitonto Q (Visitor Q, 2001) *
No anexo da Fangoria (durante cobertura do FantAsia 1997), um lembrete dos bons tempos em que não era tabu criticar negativamente algum filme de Takashi Mickey Mouse...
Não tinha uma sessão fílmica tão dolorosa desde que revisitei Indianûs Jones e os Cabaços da Arca Perdida, no comecinho do ano passado. PQP, quase morri de tédio ao rever Fudeu: The Nerd Generation, entediante adaptação de mangá com direção do ultra-superestimado Takashi Miike. Visitonto Q também não fica tão atrás.
O meu primeiro contato com Miike foi quando eu tinha 18 anos de idade, em Janeiro de 2004. Não lembro necessariamente qual foi o primeiro filme que assisti, mas certamente foi um desses três, vistos em conjunto naquela ocasião: Fudeu: The Nerd Generation (1996), Visitonto Q (2001) e Ichi: O Asshole Suíno (2001) - que me desfiz da VHS piratex assim que adquiri o DVD duplo da Europa Filmes, pouco depois de seu lançamento.
(Assim como Fudô, Visitor Q também nunca foi lançado em home video no Brasil. Ao menos até onde sei. Apesar disso, chegou a ser exibido na extinta Sessão Comodoro como Visitante Q. Já Ichi: O Assassino foi lançado em duas edições diferentes em DVD pela Europa Filmes - simples e duplo em digipak.)
As minhas expectativas com Fudeu e Ichi eram as de que fossem filmes bastante frenéticos, anárquicos, insanos e sanguinolentos. Já Visitonto Q eu imaginava ser algo provocador e ofensivo, na linha dos melhores Todd Solondz e Neil Labute.
Quebrei a cara três vezes.
É claro que na época eu só tinha 18 anos, e estava tendo o meu primeiríssimo contato com Miike, portanto não tive a personalidade de me impor e admitir que achava esses filmes CHATOS PRA CARALHO, além de RIDÍCULOS e, é claro, METIDOS A TRANSGRESSORES. Me lembra a época em que estava me iniciando no rock / metal: achava Iron Maiden com Bruce Dickinson insuportável, pior que os piores momentos do Green Day e do Offspring. Mas, como só tinha 12 anos na época, não tinha a menor atitude de admitir para os mais velhos que não gostava de IM pós-Paul Di'Anno. Ou então quando estava descobrindo o mundo do hard rock, e não conseguia confessar que, apesar de ser um excelente frontman e cantor (no seu auge), Sebastian Bach e seu Skid Row não possuía uma única canção da qual eu realmente gostava. (E, nesse mesmo início farofa, também tinha dificuldade em encarar o fato de que, apesar de compositor talentoso, Nikki Sixx é um completo idiota, além de mitômano. Tem essa também.)
Mas pau no cu do mundo: agora estou velho (prestes a completar 32 anos) e não tenho mais por que mentir, ou me reprimir sobre o assunto que for. Não tenho mais nada a esconder.
Fudeu é uma palhaçada otacu envolvendo um grupo Yakuza composto por crianças e adolescentes, numa série de situações patéticas e que me causaram diversos bocejos. A sequência da partida de futebol, com a cabeça humana usada como bola, ainda pode ter influenciado o imbecil mór Eli Roth numa cena do deprimente Albergue 2. (Falando nisso, Miike até faz uma ponta no primeiro Albergue. Miike, Roth e Tarantino juntos, huh? Ótimo: só gastaria uma granada.) No fim das contas, Fudeu é tão retardado quanto pedir a volta da ditadura militar.
Visitonto Q então é um Solondz ou Labute dos pobres, desesperado para chocar a qualquer custo, com a costumeira abordagem ''psycho otacu'' de Miike. Não possui 1% da inteligência provocadora de um Felicidade ou Na Companhia dos Homens - ou Seus Amigos, Seus Vizinhos. Solondz e Labute não precisam mostrar UMA gota de sangue para incomodar e até estragar o psicológico (e o dia) do espectador. Miike tem que apelar para a sanguinolência desmedida - e falha.
Já Ichi é longo pra caray, besta pra caray e, novamente, um tédio absoluto. Não consigo me simpatizar com Ichi, Kakihara ou qualquer outro personagem dessa chatice interminável, repleta de frases vexatórias, como ''é só uma pequena tortura'' e ''não há paixão na sua violência''. Não vejo o menor propósito ou valor nessa porra que parece durar um dia inteiro. O pior ainda é lembrar um certo podcast aí, em que alguém teve a pachorra de comparar essa tranqueira otacu a Mártires, um dos melhores filmes de horror (e de qualquer gênero) de todos os tempos. PUTA QUE PARIU.
O pior ainda é pensar que, muito infelizmente, eu possuo um Miike na minha breve coleção de Blu-ray: o remake de Harakiri (AKA Suicídio), já que a Versátil decidiu colocá-lo junto do filme original nessa edição azul. Mais nonsense do que isso, só se alguém lançasse o Halloween original junto do seu questionável remake de 2007.
E já que citei o seu Hara-Kiri: Morte de um Samurai, devo dizer que dois de seus outros exemplares dos anos 2010, Lesson of Evil e Yakuza Apocalypse, foram extremamente frustrantes de assistir. Já haviam, inclusive, comentado que Yakuza Apocalypse é uma bomba. Discordo. Teria que melhorar muito para virar uma bomba: Yakuza Apocalypse é uma das piores coisas que já assisti na vida. Lembro de implorar fortemente para que essa porra acabasse - o que parece ter levado semanas para acontecer.
Outra coisa ridícula é pensar que, mesmo já tendo uma idade (beirando os 60 anos), Miike continua nessa de ficar adaptando mangázinho para agradar a galera otacu. PQP, vai tomar no cu.
Sei lá, acho que, secretamente, uma porrada de gente não suporta Takashi Miike.
PS: Qual será a minha experiência agora ao rever Audition, Dead or Alive e Gozu?
(...)
Material Extra: Analisando melhor Visitonto Q... (AKA Takashi Mickey Mouse Vs. Todd Solondz)
Visitonto Q apresenta uma família pra lá de fodida: o filho (um fã de Morning Musume (!) sósia do protagonista do pornô lesado Woman Teacher in Black: Sakura; sei lá, vai que é o mesmo infeliz) sofre bullying e desconta os mal tratos na mãe, uma junkie. Já a filha se prostitui, transando, inclusive, com o próprio pai - que, por sua vez, se diverte filmando as desventuras todas da família. O cotidiano desgraçado dessa turminha da pesada começa a mudar com a vinda de um misterioso personagem (o Visitonto Q do título), sempre chegado em acertar as pessoas com uma pedrada na cabeça.
A impressão que se tem, com Visitonto Q, é que se trata da obra de um otacu xarope que assistiu os clássicos instantâneos Bem-Vindo à Casa de Bonecas e Felicidade (e, talvez, também o duvidoso Violência Gratuita), e decidiu fazer seu próprio filme, com o intuito de rivalizar a transgressão daquelas duas obras noventistas dirigidas por Todd Solondz.
Ao invés das atuações marcantes do elenco de Casa de Bonecas e, principalmente, de Felicidade, temos um elenco que parece mais sonolento do que o espectador dessa bosta.
Ao invés do humor negro desconcertante de Solondz, que mescla a acidez com a ambiguidade (e que fez um cidadão gritar ''PQP, TEM QUE MATAR O DIRETOR DESSE FILME'' numa certa sessão que peguei de Felicidade), temos um humor infantil, a la Troma, que só deve agradar a turminha que faz fila para entrar no Anime Friends. (Eis que a citação ao Morning Musume começa a fazer todo o sentido... Se bem que, de boa, eu seriamente preferiria ouvir um disco do Morning Musume na íntegra do que cometer o erro de rever Visitonto Q de novo!)
E, no lugar do gosto amargo deixado pelo pessimismo geral de Solondz em relação a humanidade, temos um desfecho que (pode ser spoiler, mas whatever) descamba para as fantasias de vingança, deixando Visitonto Q incrivelmente vexaminoso lá pelos últimos 15-20 minutos. O meu problema com a fantasia de vingança é que ela, muitas vezes, se mostra um tiro que sai pela culatra: surge para resolver o problema e fazer com que, assim, o espectador possa sair da sala de cinema indiferente, já que não há mais crise para se resolver. Já com o melhor do cinema de Solondz, o público pode ficar radicalmente abalado após o término do filme - já que se trata dum sujeito que não faz concessões, e que não se mostra muito interessado nessas fantasias vingativas que podem apagar o peso do conteúdo de suas tramas.
Para não me estender mais, vale a curiosidade da Asia Argento ser fã de Visitonto Q. Faz todo o sentido: uma diretora ruim pra caralho (vide os abomináveis Scarlet Diva e Maldito Coração) admirando um filme ruim pra caralho, que desperdiça (e muito) o potencial que seu tema poderia alcançar. Aliás, sei que é digressão, mas vamos deixar a hipocrisia de lado. Convenhamos que Asia Argento só é famosa e celebrada por dois motivos: por ser gostosa demais, e por ser filha de um grande mestre do cinema de horror.
Enfim...
Foda-se Visitonto Q.
PS: Outro detalhe que pode prejudicar o efeito de Visitonto Q é o fato de que, provavelmente, é o filme que assisti com mais cenas de microfone visível. Takashi ''Mike'' :) É, se já não bastasse o ritmo morto do filme - algo presente em vários Miike...
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